terça-feira, 17 de setembro de 2013

Osamu Dazai «Não Humano»


Não Humano, publicado no período em que a poeira da II Guerra Mundial assentava e muita indefinição quanto ao futuro do Japão pairava no ar, apresenta-nos uma visão pessimista e niilista sobre o ser humano. Baseado em eventos da sua própria vida, Osamu Dazai construiu aqui um romance opressor – para o leitor – e cru que ainda hoje é considerado um ícone e best-seller em terras nipónicas.

«De facto, quanto mais cuidadosamente examinas o rosto sorridente da criança, mais sentes um horror indescritível e atroz a trepar por ti acima. Vês que, na verdade, não é, de todo, um rosto sorridente. O rapaz não tem um único indício de um sorriso.» (pág. 10): esta criança é Yozo, personagem central de todo o romance, um indivíduo que cria uma espécie de máscara de ferro para enganar todos os que o rodeiam. Incapaz de ser feliz, o jovem Yozo finge sorrisos, inventa felicidade, faz «palhaçadas» para se inserir numa sociedade que o rejeita. Este distanciamento social resulta muito provavelmente da ausência de uma figura paterna no seu crescimento infantil: «Mesmo quando o meu pai e eu vivíamos na mesma casa, ele mantinha-se tão ocupado a receber convidados ou a sair que, por vezes, decorriam três ou quatro dias sem nos vermos. Isto, todavia, não tornou a sua presença menos opressiva e intimidante.» (pág. 50).

À medida que cresce e falha na vida, à medida que o desespero e o negativismo se apoderam da mente de Yozo, coisas más acontecem não só a si mesmo, como também aos que o rodeiam. A desesperante descida aos infernos e gradual auto-destruição combinada com perda de sentimentos pela vida alheia inclui uma tentativa de suicídio com uma rapariga, ainda que só morra a amiga (curiosamente, na vida real o autor suicida-se juntamente com a sua companheira em 1948), alcoolismo extremo , morfina e perda de lucidez entre o real e a loucura. Não importa nada, simplesmente.

De página para página, a dor e a insustentabilidade face ao quotidiano aumentam. Não sendo difícil de adivinhar o desfecho do final da obra, Não Humano transmite uma carga tão negativa e pesada que obriga o leitor a sentir compaixão pelo anti-herói Yozo (e também Osamu Dazai).

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