sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Philip Roth «Nemesis»


 

Nemesis foi o último romance de um dos mais galardoados escritores norte-americanos dos últimos anos, Philip Roth, recentemente aposentado da Literatura. Capítulo final numa série de quatro obras – Everyman (Todo-o-Mundo, em português), The Humbling, Indignation (Indignação, idem) – onde aborda, essencialmente, a fragilidade do ser humano enquanto ser que envelhece e perde faculdades e a falácia do sonho americano.

Nesta obra, o veterano escritor prossegue a contar-nos algo sobre o seu passado enquanto jovem em Newark, Nova Jérsia, na década de 40. Esta década, onde os Estados Unidos derrotaram o nazismo e o imperialismo nipónico em duras batalhas, adquire um sentimento quase secundário para Eugene “Bucky” Cantor, um jovem de 20 e poucos anos que queria muito servir o seu país na guerra mais sangrenta do séc. XX, mas que por ver muito mal, foi-lhe recusada a sua participação; a verdadeira guerra que Bucky tem pela frente, é a poliomielite, uma doença que naqueles tempos era letal, principalmente nas crianças. 

Quando o surto de poliomielite ganha contornos assustadores no bairro judeu onde Bucky vive, o professor de educação física e também treinador tem em mãos a maior desgraça que lhe podia acontecer. Pouco a pouco, todos os rapazes saudáveis e cheios de vida que Bucky conhece adoecem, acabando a grande maioria deles por morrer no hospital. Sem qualquer tipo de certezas sobre a origem da epidemia, a paranóia reina entre os moradores do bairro. Será que o problema está no calor? Será que são os miúdos italianos que trazem o vírus? Estas e outras questões são colocadas a Bucky. Ele, como é óbvio, não tem resposta.

Philip Roth passa em revista toda a sua vida, ainda que esta obra não seja necessariamente bibliográfica; a América dos anos 40, a saudade, a nostalgia parecem-me ser demasiado evidentes ao longo do romance. Outra questão principal prende-se com Deus e a sua existência: que tipo de Deus é este que tira a vida a crianças inocentes? Philip Roth e Bucky, apesar das raízes judaicas, não parecem ser religiosos. Bucky, ao longo da obra, tenta perceber como é possível que as pessoas à sua volta acreditarem em Deus – uma divindade bondosa – quando todo o mundo parece entrar em colapso.

Extremamente reflexivo e inquisitivo, Nemesis – a confirmar-se como último romance do autor - passa a ideia de que Philip Roth possa eventualmente ter saído da cena literária com alguma amargura, como ele deu a entender em entrevistas recentes. Uma boa obra, sem dúvida, mas não a sua melhor.

Nota: esta crítica foi baseada na leitura da obra no seu idioma original, o inglês.

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