Admiral Angry é um daqueles nomes algo peculiares que soa a algo do início deste século, directamente saído das dezenas de bandas de noise/mathcore que utilizavam nomes invulgares e/ou longos para títulos de temas. Bom, este conjunto da Califórnia não se enquadra nessa onda e assenta a sua sonoridade no downtempo/sludge sujo e pesadão que me recorda um pouco os bons velhos tempos de Iron Monkey – para citar apenas um entre tantos outros grandes nomes.
Há muito a rodar por estes lados, a rodela que vem dentro da caixa do disco é daqueles tesouros muito bem escondidos nos poços do underground. Por detrás daquele artwork fofinho que erradamente induz o ouvinte num disco de indie rock, esconde-se um monstro de nove cabeças sedento por ouvintes que compreendam a sonoridade vanguardista e anti-comercial que os Admiral Angry compõem. O disco abre com o feedback de guitarras e baixo, acompanhados pelo ritmo lento e pesado da bateria, riffs repetitivos e minimalistas, o desespero do eco dos berros de Chris Lindblad a gritar Sex with a Stranger. Tão caótico, demorado, sinistro e ao mesmo tempo tão, mas tão brutal como aquela Black Sabbath que Ozzy, Tommy, Geezer e Bill gravaram há 42 anos.
Kill Yourself, um dos vários temas explicitamente negativos que fazem parte do registo, usa e abusa da afinação instrumental grave que os Meshuggah vêm utilizando há muito e que os Black Sheep Wall tão bem têm explorado, aumentando substancialmente o nível da qualidade do som desta banda, na medida em que encaixa que nem uma luva na temática geral e uniformidade da sonoridade que querem passar ao público. Nenhum tema possui um ritmo acelerado ou grandes variações rítmicas, favorecendo de sobremaneira o baixo e bateria que, em termos de produção, se apresentam no pico dos melhores discos que ouvi até hoje; de facto, a lentidão com que os instrumentos são tocados intimida (passe-se a expressão) bem mais que 90% das bandas de grindcore contemporâneo que geralmente recorrem a meios artificiais para imprimir pujança.
Infelizmente, o guitarrista, principal compositor e grande Almirante da banda Daniel Kraus faleceu em 2009 vítima de fibrose quística e não pode presenciar o excelente feedback que a banda tem recebido nestes últimos três anos por parte de um público muito específico. Apesar do lado negro das letras, todos os lucros deste disco e do EP A Fire to Burn Down the World revertem a favor de instituições de cura da fibrose química. Em suma, fãs do doom metal e sludge extremo e vanguardista vão adorar Buster, um disco muito especial que pessoalmente me relembra os tempos de In Utero na simplicidade com que os músicos compõem e pela satisfação final que obtenho após escutar a sua música.
8.5/10