Numa entrevista ao Público, a norueguesa Kjersti
Annesdatter Skomsvold (KAS) explica que tinha como plano de vida ser
engenheira, mas que depois adoeceu e teve de ficar acamada num quarto durante
um longo período da sua vida, levando-a a escrever um livro – ela, que nunca
tinha escrito nada, segundo a mesma.
Pois bem, Mathea Martinsen – a personagem
central - é uma senhora muito idosa que foi atingida por dois relâmpagos (!) quando
jovem, deixando-a com muitos problemas de mobilidade, pouco cabelo e escassos
dentes, que vive a vida de forma anti-social – antes de sair do seu
apartamento, certifica-se de que não encontrará vizinhos nas escadas – em parceria
com o seu marido Epsilon. Escrito de uma forma simples, inteligente - «Então,
dirijo-me ao lago Lutvan. O tapete é verde, o papel de parede é castanho e o
teto é azul. Paro na última colina. Escuto as árvores e conto até três em sua
honra, e depois desço a colina tão lentamente quanto posso» (pág. 141) – e cómica,
com algumas doses de tragédia à mistura, Quanto
Mais Depressa Ando, Mais Pequena Sou (título inspirado na Teoria da
Relatividade de Einstein) explora a solidão e fobia social de uma senhora que
passou um mau bocado na sua vida, e que, no entanto, agora, perto da morte,
procura deixar uma marca da sua existência - «Embora fosse bom ter um obituário
como prova da minha existência, e pergunto-me se se pode submeter o próprio
obituário em adiantado e pedir ao jornal para o imprimir quando chegar o
momento» (pág. 19).
Esta obra, vencedora do
prestigiado prémio de literatura norueguês Tarjei Vesaa, em 2009, explora as debilidades
e obstáculos que a velhice impõe de uma forma muita descontraída, quase como se
se tratasse de uma criança a descobrir pela primeira vez as dificuldades da
vida, ainda que sem o optimismo infantil. O humor, infelizmente, torna-se algo
previsível e um pouco cansativo, retirando algo do brilho inicial que o
primeiro terço da obra propõe, o que é uma pena.
Polvilhado com brutas doses de
humor negro e desconcertante, Quanto Mais Depressa Ando, Mais Pequena Sou é
uma óptima estreia literária por parte de KAS; apesar de prometer mais que
aquilo que inicialmente oferece, merece uma leitura cuidada por parte do
leitor.