sexta-feira, 31 de agosto de 2012

«Ensaio sobre a Cegueira» em mandarim


Fan Weixin, um dos maiores experientes tradutores de português, é o responsável pela tradução de Ensaio sobre a Lucidez no mercado chinês. Depois de Memorial do Convento e Ensaio sobre a Cegueira, este é o terceiro livro do Nobel a chegar a solo oriental. 

O lançamento até final deste ano está a cargo da Thinkingdom Media Group, editora que inclui no seu catálogo clássicos de García Márquez e Haruki Murakami.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Gabriel García Márquez «Os Funerais da Mamã Grande»



É um facto incontornável que Gabriel García Márquez já não vai escrever mais nenhum conto e muito menos um romance devido aos seus graves problemas de perda de memória, porém, ficará para sempre a extensa obra daquele que me parece ser o mais fantástico e cativante contador de estórias da América latina.

Esta obra reúne oito textos repartidos por sete contos e uma novela que dá precisamente o título ao livro, ao largo de aproximadamente 150 páginas e um preço actual que ronda os 5€ em praticamente todos os locais habituais. Se já conhece um pouco da obra de Márquez, se já leu A Hora Má: O Veneno da Madrugada e Cem Anos de Solidão – aquele que António Lobo Antunes classifica como um romance perfeito – certamente que reconhecerá o espaço e o tempo destas estórias: estamos, pois, no final do século XIX/inícios do século XX da famosa aldeia de Macondo, a terra do coronel Aureliano Buendía e outros ilustres.

O pai do realismo mágico elaborou aqui – mais um – grande cruzamento entre personagens que vão aparecendo em vários romances e contos desde, sensivelmente, os anos 60 até ao fim da sua actividade de escrita: um funeral de uma personagem emblemática rainha de Macondo, um dentista revolucionário que tira um dente a um coronel autoritarista, ladrões de bolas de bilhar, pássaros que caem mortos sobre as casas, um padre que viu o demónio três vezes, um carpinteiro que constrói uma das maiores e mais belas gaiolas do mundo, uma viúva com saudades do marido tirano, etc. Tudo isto é Gabriel García Márquez; tudo isto é política, religião, sociedade, ócio e miséria.

A obra é mais que recomendada para os fiéis leitores da obra do Nobel colombiano e um excelente ponto de partida para aqueles que se querem iniciar no universo mágico de Macondo.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Neurosis com novo disco


Em quase três décadas de existência, poucos são os grupos que se poderão comparar em termos de evolução e criatividade aos norte-americanos Neurosis. Apareceram durante a explosão do hardcore punk californiano da década de 80, mas rapidamente compreenderam que a via para o sucesso não passaria pela rapidez desenfreada do hardcore tradicional. Incorporam lenta e progresivamente elementos de géneros distintos, desde o heavy/doom metal, ao sludgecore, música industrial, tribal e psicadélica, obtendo assim algo tão único que não parece criar consenso entre os críticos relativamente ao rótulo musical.

O tão aguardado sucessor de Given to the Rising (2007) tem estreia marcada para Outubro deste ano - 26 na Alemanha, 29 no Reino Unido e 30 nos Estados Unidos -e chama-se Hour Found in Decay. Este disco será editado pela Neurot Records, a editora da banda.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Pelican «The Fire in Our Throats Will Beckon the Thaw»


Creio que o primeiro grande contacto que tive com este grupo norte-americano terá sido por volta de 2004, numa altura em que começava o grande "boom" do post-metal/sludgecore experimental e bandas como os Cult of Luna, Neurosis, Isis e Callisto - talvez entre as mais famosas - começavam lentamente a afirmar-se.

Se há concertos que mudam o modo como encaramos a música e vemos o mundo, aquele concerto demolidor, épico e electrizante que os suecos Cult of Luna deram em Coimbra, no dia 25 de Abril de 2007, foi um deles. Geralmente associamos peso ou música pesada ao death metal e ao grindcore, mas a verdade é que o nível de intensidade foi maior naquele dia solarengo de 2007 do que nos vários concertos de Napalm Death a que já assisti. Isto tudo para dizer que passados quase dez anos, e com ouvidos cada vez mais selectos - isto sem qualquer tipo de arrogância -, sobreviveram precisamente aqueles que eu já ouvia com regularidade.

O som dos Pelican mudou um pouco ao longo dos vários EPs e quatro disco de longa-duração, mas a base está lá ainda: uma grande entrega musical, acordes arrastados, delay abusivo e uma percussão dinâmica. A isto tudo, junta-se a enorme paixão que o colectivo de Chicago emprega ao projecto e a capacidade cada vez mais rara de escreverem temas de dez minutos que não me aborrecem. É complicado destacar um disco favorito entre uma discografia que eu considero extremamente equilibrada, porém The Fire in Our Throats Will Beckon the Thaw merece um ligeiro destaque. Mais melódico que o debut Australasia, este disco de 2005 alimenta-se um pouco mais de harmonias e texturas suaves, alimentando com mel a toada alegre e relaxada que pauta o disco na sua quase totalidade.

O disco tem momentos verdadeiramente mágicos e calmos que contrastam simultaneamente com o brutal peso das guitarras - os Russian Circles também possuem esta mesma capacidade -, como facilmente podemos escutar em March to the Sea, um tema que o grupo viria a explorar melhor no EP March into the Sea. O tema que impressiona mais é, a meu ver, Red Ran Amber e todo o sentimento, clímax e paixão que dele resultam- o final é tão, mas tão épico; encontramos actualmente, e com alguma facilidade, este tipo de composição num disco de Ancients ou Ef, mas a mestria de execução revela-se mais neste disco e nesta banda. 

Pácífico e poderoso, acústico e abrasivo, The Fire in Our Throats Will Beckon the Thaw é hoje, mais que nunca, um disco essencial na discografia do melhor que se fez e vai fazendo dentro do post-metal/sludgecore experimental. 

8.5/10

domingo, 5 de agosto de 2012

«Vertigo» melhor filme de sempre?


A revista britânica Sight and Sound elegeu recentemente o clássico Vertigo – A Mulher que Viveu Duas Vezes, de Alfred Hitchcock, como o melhor filme de sempre. A votação foi feita por 846 distribuidores, críticos e académicos e destronou Citizen Kane - O Mundo a seus Pés, de Orson Welles, pela primeira vez.

E você, qual é o seu filme favorito?

sábado, 4 de agosto de 2012

Louis-Ferdinand Céline «Viagem ao Fim da Noite»


Amado por uns, odiado por outros, Louis-Ferdinand Céline foi um dos grandes escritores franceses do século passado e continua a ter um lugar de destaque entre os maiores romancistas da literatura.

Amplamente elogiado por António Lobo Antunes, esta referência obrigatória para os artistas da beat generation desapareceu da lista das personagens francesas de maior importância cultural da França devido à propaganda anti-semita e suspeitas de colaboração com o governo nazi da zona de Vichy aquando da invasão da França pelos alemães. No entanto, o escritor sempre se referiu com escárnio e sarcasmo à estupidez hitleriana, apesar de manter sempre presente o seu ódio contra os judeus. Polémicas à parte, e analisando esta magnífica obra, há que ressalvar aqui dois aspectos: o egoísmo e o niilismo hilariante de Ferdinand Bardamu.

Bardamu é, antes de mais, uma espécie de sósia de Céline. Na verdade, ambos estiveram envolvidos na primeira guerra mundial, imigraram para África, passaram pelos Estados Unidos e nenhum dos dois vê a sua vida e os esforços reconhecidos pela sociedade. São dois anti-heróis, dois indivíduos que vivem no e do momento, seres egoístas profundamente negativos. Bardamu, depois de viajar pelo mundo, enverga pela carreira médica mas nunca se sente como um verdadeiro doutor; raramente é recompensado pelos seus tratamentos. Acaba por ser uma vítima da sua boa vontade – ainda que nem faça por isso, isto é, por ser simpático e generoso –, os pacientes aproveitam-se da situação para gozarem com ele e os outros médicos, esses, enfim, ridicularizam-no por ser um doutor do povo, um médico que não possui sequer um automóvel e uma boa casa.

A vida de Bardamu é sempre a descer. Quando o próprio pensa que algo de bom poderá surgir, algo de pior acontece. O ex-soldado procura então um plano para se adaptar às circunstâncias da vida: o egoísmo e o nada a perder em relação a tudo o que o rodeia, tal como o próprio Céline. Em termos de escrita, o romance caracteriza-se pela utilização de linguagem coloquial misturada com uma cultura geral erudita, frases curtas, hipérboles e um excesso de exclamações tipicamente nietzschianas, a meu ver. A torrente de palavras das personagens debita e cospe ódio puro, raiva, inquietação e um enorme sentido de humor cáustico a toda a narrativa, roçando um pouco a corrente absurdista literária.

Viagem ao Fim da Noite é um livro absolutamente surpreendente, frio, atroz, hilariante e negativo. Uma obra que perdura ainda hoje entre as mais consagradas e uma referência máxima para os modernistas.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

«Superman/Batman: Apocalypse»


Contagiado pela recente febre em torno do morcego de Gotham e o novo capítulo da saga, O Cavaleiro das Trevas Renasce, decidi experienciar uma fusão entre o Super-Homem, Batman, a Wonder-Woman  e Big Barda. Para além destes famosos, há a adição de Kara, a prima de Clark Kent, que vem para o planeta Terra para aprender a utilizar correctamente os seus super poderes.

O título da película é, antes de mais, enganador; de facto, e pensando eu que iria assistir a uma união de forças entre Batman (kevin Conroy) e o Super-Homem (Tim Daly), é a Super-Girl (Summer Glau) - Kara - que toma as rédes da narrativa, relegando o restante elenco para segundo plano. O filme começa com a chegada misteriosa de Kara a Gotham e o seu encontro com Batman, e é basicamente esta a única cena onde o justiceiro tem destaque, pois o resto é orientado em torno da dupla Kara/Super-Homem. Após diálogo aceso, Kara, Batman e Super-Homem decidem que o melhor local para a futura heróina aprender a dominar os seus poderes é em Themyscira, a ilha da Wonder Woman (Susan Eisenberg) e das amazonas.

kara deverá com este treino tornar-se na Supergirl, mas para isso terá que resistir aos ataques de Darkseid (Andre Braugher), um monstro malvado de outra dimensão que a quer para o seu próprio excército. Em termos de história, não há muito mais a acrescentar, mas poderia e deveria ter sido revista; o papel de Batman é quase inexistente e os 78 minutos do filme não chegam para tantas personagens. Os desenhos adquiriram um toque mais surreal e caricaturado, mas um tipo de lápis mais tradicional teria sido mais proveitoso, creio.

Visto que Superman/Batman: Apocalypse decorre após os acontecimentos de Superman Batman: Public Enemies, é de todo aconcelhado que veja Apocalipse filme em primeiro lugar. Em suma, esta animação parte da fusão entre alguns dos superheróis mais famosos, no entanto esta união de justiceiros colide com vários aspectos deficientes, como é o caso da abundância de personagens.

Realização: Lauren Montgomery
Argumento: Tab Murphy, Jeph Loeb, Michael Turner, Bob Kane, Jerry Siegel, and Joe Shuster, William M. Marston, Jack Kirby

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Morreu Gore Vidal


O escritor norte-americano Gore Vidal faleceu esta passada terça-feira vítima de pneumonia, segundo as palavras do seu sobrinho Burr Steers.

Conhecido pela sua excentricidade e activismo político, Vidal viu o seu romance The City and the Pillar recusado por parte de alguns críticos devido à homossexualidade de uma das personagens. Washington D.C., Burr, Lincoln, 1876, Império, Hollywood e A Idade de Ouro.

O autor venceu em 1993 o National Book Awards graças ao ensaio United States: Essays 1952–1992.