Tenho que agradecer a Rob Zombie por várias coisas no geral e uma no particular. Porque é um óptimo realizador de filmes, porque fez grande carreira nos White Zombie, porque a solo faz músicas divertidas e agradáveis (mesmo quando Ozzy Osbourne lhe rouba músicos). Em particular, gostava de lhe dizer «obrigado» por ter incluído um grande artista na banda sonora dum dos filmes de terror mais espectaculares dos últimos anos, Os Renegados do Diabo. Obviamente que tenho inveja da sua esposa e por isso, Rob, não te estou grato por nada.
O músico em particular é um senhor que, por estranhos motivos, não é muito divulgado, apesar de ser da mesma geração do rock ‘n’ roll e folk dos finais da década de 60 e de ter feito grande carreira na década seguinte. Terry Reid, nascido no Reino Unido em 1949, ainda hoje está no activo e dá concertos, apesar de o seu último disco de originais ter sido lançado já há já sete anos e de nos últimos vinte anos ter tido uma discografia praticamente inexistente. Inglaterra será para sempre lembrada como o país das maiores bandas de rock de todos os tempos e os Black Sabbath, os Rolling Stones e os Led Zeppelin – mesmo com aqueles plágios descarados nalguns dos seus grandes “hits” - figurarão no Panteão da música.
Terry Reid é aquele tipo de músico que tem muita paixão por aquilo que compõe e pelas guitarras com que toca belas canções dirigidas maioritariamente a mulheres igualmente belas (o habitual das letras dos Stones, Hendrix, Zeppelin, etc) que, ao som de The Way You Walk, deve ter seduzido inúmeras vezes. Este Seed of Memory, editado em 1976, prima pela devoção da fusão entre o folk e o rock de forma descontraída, suficientemente “bluesy” e harmónica em cada acorde que ecoa na guitarra de um Reid cuja voz sobressai em relação aos demais pelos roucos choros que as suas cordas vocais emitem, mesmo do fundo da garganta. Os temas que mais chamam a atenção são, curiosamente, aqueles que foram incluídos na banda sonora do referido Os Renegados do Diabo: Seed of Memory, Brave Awakening e To Be Treated Rite. A beleza da melodia e do vozeirão de Terry Reid são louváveis, honestas e cativantes, na toada de um Planet Waves de Bob Dylan ou um If You Can Believe Your Eyes and Ears dos extintos The Mamas & The Papas – só que ainda melhores, bem melhores. Ao ouvir Grace, de Jeff Buckley, por exemplo, apercebo-me da influência que Reid teve sobre este e outros grandes compositores que apareceram: aquela graça, aquele sentimento estão presentes.
Seed of Memory é um disco que dá vontade de ouvir vezes sem conta, tal como a grande voz que Terry Reid manda cá para fora. A voz – e não me canso de a repetir – é mesmo o elemento chave deste disco; algo que o distingue das centenas de discos editados na década de 70 e, convém recordar, que ao contrário dos dias de hoje onde só ao vivo (e mesmo aí, muita atenção) é possível descobrir se o artista é genuíno ou se gravou o disco com Pro Tools. Um disco virado para o amor, sem dúvida.
8.5/10