quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Mastodon preparam novo disco


Os norte-americanos Mastodon revelaram recentemente que estão a preparar o sucessor de The Hunter, de 2011. Em entrevista à Metal Hammer, o guitarrista Bill Kelliher explicou que a banda tem «20 ou 21 temas» canditados a figurar neste novo trabalho, ainda que obviamente nem todos serão incluídos neste trabalho.

Kelliher acrescentou que ainda não sabe se este será um disco conceptual, pois apesar de haver alguns ideias nesse sentido, a banda ainda «não decidiu».

Ainda sem nome, este registo, que será o 6º de originais, tem data de saída prevista para 2014 e terá a produção a cargo de Nick Raskulinecz (Rush, Alice In Chains, Foo Fighters and Ghost).

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Takiji Kobayashi «Kanikosen – O Navio dos Homens»



Escrito em 1929, Kanikosen – O Navio dos Homens voltou surpreendentemente às listas dos best-sellers em 2008, ano em que a grave crise financeira disparou no Japão e o jornal Mainichi Shimbun publicou um artigo sobre este romance. Mais de 80 anos após a sua publicação original, Kanikosen apareceu em 2010 pela primeira vez publicado em português via Clube do Autor.

Takiji Kobayashi (1903-1933), comunista, morreu com apenas 33 anos, vítima de tortura por parte das autoridades nipónicas. O motivo pelo sucedido prendeu-se com o carácter subversivo da sua escrita e a colaboração clandestina com o Partido Comunista Japonês. As autoridades tentaram maquilhar e ocultar a verdadeira causa de morte de Kobayashi, invocando então deficiência cardíaca.

Sem ter publicado muitos livros, Kobayashi escreve em Kanikosen – O Navio dos Homens sobre as horríveis condições de trabalho dos funcionários do barco-fábrica Hakko Maru nas gélidas águas de Kamchatka, na costa russa, e, claro, as diferenças entre a classe do patronato e a do proletariado. A tripulação é constituída essencialmente por camponeses pobres e estudantes universitários que eram levados a assinar contratos de trabalho falsos e muito aquém da remuneração que os mesmos prometiam. Para piorar a situação, estes pobres pescadores viviam em condições miseráveis, sem qualquer tipo de conforto, higiene ou alimentação decente, e uma boa parte deles acaba por sucumbir à morte. A certo ponto, começam a circular entre estes pobres coitados ideais de revolta e revolução contra o capitão e o patrão, como naturalmente o leitor pode imaginar. Em termos de conceito e originalidade, Kanikosen – O Navio dos Homens navega por águas bem conhecidas e clássicas. 

Kanikosen – O Navio dos Homens é agradável , curto e a sua estória é extremamente acessível a todos aqueles que queiram comparar as condições de trabalho de muitas pessoas há 100 anos atrás e constatar que as coisas não mudaram assim tanto.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Chelsea Cain «HeartSick»




Thrillers e assassinos hardcore são certamente o tipo de livros que mais vendem actualmente em todo o mundo, muito graças à saga Millennium de Stieg Larsson, e o fenómeno vai continuar de boa saúde, ao que tudo indica.

Chelsea Cain, que descobri graças a uma visita que fiz há uns tempos ao Cult - site de Chuck Palahniuk –, é uma escritora norte-americana (n. Iowa, 1972) relativamente bem conhecida nestes meandros de sangue e suspense no seu país e actualmente anda em digressão com Chuck Palahniuk (Clube de Combate) e Monica Drake (Clown Girl) a promover a saga de romances com Archie Sheridan, o detective e figura principal da saga, e Gretchen Lowell, a série killer sexy. Tudo começa quando Archie acorda zonzo, preso, sem se conseguir mexer, numa cave fria onde impera um forte odor a carne putrefacta; após se aperceber de que o pivete vem de um cadáver que jaz no chão há dias, o detective descobre que desta vez é ele mesmo que se encontra na pele do sequestrado.

Archie e a polícia andam há anos a tentar descobrir o responsável pela morte de 199 pessoas, todas vítimas de tortura, quando Gretchen, também ela membro das forças policiais e descrita como uma mulher de uma beleza impar, cativante, se junta a ele para o ajudar. O problema é que o psicopata é Gretchen, como Cain explica nas primeiras páginas, a bela assassina que torturou Archie durante dez dias até a equipa de investigação a deter, recebe um pedido de ajuda por parte da equipa de Archie para ajudar a encontrar um novo assassino que tem andado a matar raparigas adolescentes.

Recordando o «quid pro quo» de Clarice Starling e o Dr. Hannibal Lecter de O Silêncio dos Inocentes, HeartSick (editado em Portugal pela Porto Editora, com o título Beleza Assassina) é viciante devido a uma escrita simples e acutilante, ainda que não ofereça muitos rasgos de originalidade em termos de conteúdo. A saga Archie Sheridan & Gretchen Lowell  encontra-se já no sexto volume (!), sendo que em português está publicado por cá apenas o primeiro. 

Nota: esta crítica foi baseada na leitura da obra no seu idioma original, o inglês. 

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Yasunari Kawabata «Mil Grous»




Tendo como pano de fundo uma cerimónia de chá, Mil Grous - Senbazuru no original – é um dos expoentes mais simbólicos daquilo que é o declínio da cultura, mentalidade e costumes japoneses tradicionais, especialmente no pós-II Guerra Mundial e consequente ocidentalização do “país dos Samurais”.

Publicado em 1958, a escrita de Mil Grous é extremamente acessível, o mesmo não se podendo dizer acerca do seu verdadeiro significado e a metáfora que um aparentemente simples convite para tomar chá tem para um japonês e que a nós, ocidentais, nos escapa. A Custa-nos a entender o porquê de os nipónicos levarem – demasiado – a sério a questão da honra, o porquê de cometerem “sepukku” – suicídio estilo Samurai, que consiste no esventramento com uma lâmina – e neste caso toda a graciosidade e sensibilidade resultante do ritual de beber uma chávena de chá.

A estória deste romance passa-se, como já referido, no período que o Japão se vê assaltado pelo domínio ocidental, e centra-se em Kikuji, convidado especial para a “chanoyu” – cerimónia de beber chá – de Chikako, uma mulher que foi amante do seu falecido pai. Na casa de Chikako, Kikuji reencontra uma outra ex-amante do seu pai, a senhora Ota na companhia da sua jovem filha Fumiko, acabando por conhecer a menina Yukiko, estudante de Chikako. Esta, a personagem simbolizante de todo o veneno e declínio dos valores tradicionais japoneses, pretende casar Kikuji com Yukiko, que se vê envolvido numa relação com a senhora Ota.

Mil Grous desenrola-se através de um misto solenidade, respeito e costumes, acentuados pelo forte efeito imagético que a escrita de Kawabata sugere – vencedor do Prémio Nobel da Literatura, em 1968 – com uma carga emocional invulgar. Dito isto, convém referir que Terra de Neve – visto por muitos como o melhor romance de Kawabata - revelou-se-me uma experiência de maior prazer.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Mario Vargas Llosa «O Sonho do Celta»



As primeiras páginas de O Sonho do Celta sugerem de imediato que o leitor está perante um romance histórico. Nesta obra, o peruano Mario Vargas Llosa levou a cabo uma pesquisa exaustiva e minuciosa sobre a personagem de Roger Casement, irlandês que serviu o Império Britânico acabando, mais tarde, por reivindicar a independência e autonomia da Irlanda.

Enquanto diplomata do Império Britânico, Casement testemunhou in loco as várias atrocidades que os grandes impérios europeus cometeram contra os povos africanos e americanos; com o pretexto de modernizar e civilizar estes povos ditos indígenas, a História mostrou que vários países da Europa – sobretudo Espanha, Reino Unido e Portugal – se serviram das riquezas e mão-de-obra locais para enriquecerem facilmente. Roger Casement, nas palavras de Llosa, viajou um pouco por todos os continentes, tendo-se estabelecido vários anos no Congo e na Amazónia Peruana.

Em ambos enfrentou o abuso de poder, crimes, violações e várias outras infracções desumanas: «Dyall matou os dois primeiros a tiro, mas o chefe ordenou que, aos dois seguintes, lhes esmagasse primeiro os testículos com uma pedra de moer mandioca e acabasse com eles à bordoada. Ao último, mandou que o estrangulasse com as próprias mãos» (págs. 226, 227). O período de Casement no Congo foi assustador e desgastante em termos físico-psicológicos, agravados mais tarde com a ida do irlandês para o Peru, onde teve de lutar contra a Peruvian Amazon Company, uma empresa exploradora de borracha.

Progressivamente, e já depois de ter sido promovido a “sir” pelo Império Britânico, Roger Casement estabeleceu um termo de comparação entre a Irlanda, o Congo e o Peru e concluiu que não podia servir mais os interesses britânicos, pois a Irlanda estava a ser colonizada precisamente pelos britânicos. Procurou uma aliança entre os rebeldes, nacionalistas e radicais irlandeses com a Alemanha, mas o Reino Unido viria a condenar o outrora “sir” por traição.

Mario Vargas Llosa está de parabéns, pois a força e detalhe da sua escrita abrasiva, chocante no retrato das mortes atrozes dos indígenas, aliada à emotividade transmitida pela figura de Roger Casament fazem de O Sonho do Celta uma obra inesquecível, de uma leitura viciante.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Charles Bukowski «Mulheres»



Nome: Henry Chinaski
Idade: 55 anos
Ocupação: poeta
Morada: Los Angeles

Objectivo de vida: fazer sexo aos 80 com uma rapariga de 18.

Henry Chinaski adora as mulheres. Porquê? «Mulheres: gostava da cor das suas roupas; do modo com andavam; a crueldade de alguns rostos; de quando em quando, a beleza quase perfeita dum rosto, encantadoramente feminino. Elas tinham uma vantagem sobre nós: planeavam muito melhor a sua vida, eram muito mais organizadas.» (pág. 263).

Mulheres narra a vida de um poeta que passa o seu tempo a beber e a fazer sexo com várias mulheres – muito resumidamente, é isto. Sem se perceber bem como e porquê –nem o próprio Chinaski o sabe - , um indivíduo de um metro e oitenta, 100 kilos, que usa meias diferentes, com poucos dentes, barba desgrenhada, conhece as mulheres mais belas e mais exóticas dos Estados Unidos e acaba com elas na cama. O “esquema” inclui as mulheres dos melhores amigos.

Auto-biográfica em vários aspectos, desde o facto de Chinaski ter nascido também na Alemanha e ser poeta, a obra é repetitiva do princípio ao fim, e escrita de forma simples, directa e explícita, e roda em torno do sexo: «Pus a sua mão no meu caralho. Agarrei-lhe no cabelo e puxei-lhe a cabeça para trás, beijando-a violentamente. Acariciei-lhe a cona. Mexi-lhe no clitóris durante algum tempo. Estava completamente molhada. Montei-a e enfiei-o.» (pág. 139). Tammie, Katherine, Joanna, Arlene, Sara, Liza, Cecelia, etc, etc. São tantas.

Até meio da obra, adorei a sua escrita “drogas, sexo, álcool”, até que depois me comecei a aperceber de que era sempre isto e, bem, a coisa a modos que se torna repetitiva e entediante.

Mulheres é um bom livro, apesar da rotina que se instala na sua leitura; a tradução não é das melhores, além de que Bukowski “rende” mais em inglês, mas revelou-se uma experiência interessante.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Nirvana «In Utero: 20th Anniversary Super Deluxe Edition»



As palavras «Teenage angst has paid off well/Now I’m bored and old» definem bem o estado de alma do banda oriunda de Seattle: Nevermind já era, faz favor. «O seu único defeito é ser pefeito», diz Dave Grohl em várias entrevistas sobre o segundo disco da banda, aquele que viria a inundar as rádios com Smells Like Teen Spirit, In Bloom e outros grandes êxitos.

Esta tentativa de limpar a imagem – um disco com uma produção menos pop, com um som mais cru – só seria alcançada com o talento e ajuda de Steve Albini, que tinha produzido já bandas como The Jesus Lizard, Superchunk, Tar ou Helmet e que actualmente é o senhor que grava os discos dos Neurosis. Os Nirvana fecham-se durante duas semanas no Pachyderm Studios, desagradam a editora com temas diferentes do sucesso comercial do disco anterior  - Scott Litt deu alguns retoques à produção final; os temas Heart-Shaped Box, Pennyroyal Tea e All Apologies  acabaram remisturados, o que causou algum mal estar entre Albini e a banda – e gravam o seu melhor disco: um dos melhores de sempre e aquele que verdadeiramente capta a identidade do grupo: pop – algum, sim -, rock, punk e hardcore old school.

O resto da história de In Utero é conhecido: 15 milhões de discos vendidos, temas pesados, mais agressivos, mais crus, gravados em pouquíssimos takes e um legado que fica para a posterioridade. O álbum todo é assustadoramente quase perfeito, no entanto vou destacar aqueles que, na minha opinião, são o coração do disco: a esquizofrenia de Tourette’s, a melancolia de Dumb, a melodia de All Apologies, a distorção de Scentless Apprentice, o sarcasmo arrebatador de Serve the Servants e, por último, a hipnótica Pennyroyal Tea

20 anos depois, esta Super Delux Edition traz consigo uma dose enorme de saudosismo e acrescenta uma remistura global, pré-demos, lados-B, um disco e um DVD de uma actuação ao vivo em Seattle, excluindo – lamentavelmente – o vinil e temas verdadeiramente desconhecidos dos fãs. Uma boa edição, sem dúvida, vendida a um valor – 100 euros - que deveria incluir no mínimo um ou dois vinis.

9/10