quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Mario Vargas Llosa «O Sonho do Celta»



As primeiras páginas de O Sonho do Celta sugerem de imediato que o leitor está perante um romance histórico. Nesta obra, o peruano Mario Vargas Llosa levou a cabo uma pesquisa exaustiva e minuciosa sobre a personagem de Roger Casement, irlandês que serviu o Império Britânico acabando, mais tarde, por reivindicar a independência e autonomia da Irlanda.

Enquanto diplomata do Império Britânico, Casement testemunhou in loco as várias atrocidades que os grandes impérios europeus cometeram contra os povos africanos e americanos; com o pretexto de modernizar e civilizar estes povos ditos indígenas, a História mostrou que vários países da Europa – sobretudo Espanha, Reino Unido e Portugal – se serviram das riquezas e mão-de-obra locais para enriquecerem facilmente. Roger Casement, nas palavras de Llosa, viajou um pouco por todos os continentes, tendo-se estabelecido vários anos no Congo e na Amazónia Peruana.

Em ambos enfrentou o abuso de poder, crimes, violações e várias outras infracções desumanas: «Dyall matou os dois primeiros a tiro, mas o chefe ordenou que, aos dois seguintes, lhes esmagasse primeiro os testículos com uma pedra de moer mandioca e acabasse com eles à bordoada. Ao último, mandou que o estrangulasse com as próprias mãos» (págs. 226, 227). O período de Casement no Congo foi assustador e desgastante em termos físico-psicológicos, agravados mais tarde com a ida do irlandês para o Peru, onde teve de lutar contra a Peruvian Amazon Company, uma empresa exploradora de borracha.

Progressivamente, e já depois de ter sido promovido a “sir” pelo Império Britânico, Roger Casement estabeleceu um termo de comparação entre a Irlanda, o Congo e o Peru e concluiu que não podia servir mais os interesses britânicos, pois a Irlanda estava a ser colonizada precisamente pelos britânicos. Procurou uma aliança entre os rebeldes, nacionalistas e radicais irlandeses com a Alemanha, mas o Reino Unido viria a condenar o outrora “sir” por traição.

Mario Vargas Llosa está de parabéns, pois a força e detalhe da sua escrita abrasiva, chocante no retrato das mortes atrozes dos indígenas, aliada à emotividade transmitida pela figura de Roger Casament fazem de O Sonho do Celta uma obra inesquecível, de uma leitura viciante.

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