quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Lídia Jorge «O Dia dos Prodígios»


Finalizado em 25 de Agosto de 1978, quatro anos após a Revolução dos Cravos e publicado em 1980, O Dia dos Prodígios assinalou o “debut” de uma carreira literária rica de Lídia Jorge. A escritora algarvia foi vencedora dos importantes prémios Jean Monet de Literatura Europeia, Escritor Europeu do Ano, Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores ou Prémio Dom Dinis, entre outros.

Localizada na aldeia de Vilamaninhos, a narrativa centra-se no antes e no depois do 25 de Abril num Portugal fechado e isolado à grande mudança política que marcou a nossa História. Constituído por várias personagens que caracterizam o povo português no geral, e o da revolução no particular, O Dia dos Prodígios rege-se por um conjunto de personagens que utilizam uma linguagem composta por termos e expressões muito próprias e uma pontuação com frases muito curtas (notoriamente algarvia pela forma como Lídia Jorge as emprega) marca literária que, a meu ver, e tal como José Saramago utilizava, serve para enfatizar o poder do povo e a forma natural pausada como as pessoas comunicam entre si. 

A obra fica marcada também pela “cobra que voa” ou  “dragão voador” que, um ano antes do 25 de Abril de 1974, aparece em Vilamaninhos como metáfora da revolução que iria ocorrer. Os habitantes, incrédulos, tentam matar um animal simbólico que um ano mais tarde, juntamente com soldados da revolução, aparece na aldeia. O ambiente que se vive neste aldeia escondida do resto de Portugal, do coração lisboeta onde a grande mudança ocorre, é de desconhecimento e alguma desconfiança em relação às boas novas. A visita dos soldados vitoriosos não traz nada de significativamente novo a uma população que vive unida, mas com excepção de poucos habitantes, não se mostra particularmente entusiasmada com a promessa da liberdade e igualdade que os cravos anunciaram. 

E hoje, tantos anos passados sobre o 25 de Abril, muita da injustiça e desconhecimento social ainda predominam entre nós. Escrito com um sentimento de grande teatralidade e uma linguagem muito própria, este registo aposta em diálogos que envolvem várias personagens ao mesmo tempo e, a meu ver, apresenta uma riqueza simbólica, linguística e filóloga assinaláveis.

2 comentários:

  1. Sem dúvida um bom livro. Foi o meu único livro que li de Lídia Jorge, mas certamente voltarei à autora.

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  2. Bom dia, Tiago

    Estamos na mesma situação, embora ainda tenha aqui em casa o "Marido e Outros Contos" para ler :)

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