domingo, 19 de fevereiro de 2012

ThanatoSchizO «Origami»


Os transmontanos ThanatoSchizO serão sempre uma banda de eleição do meu passado, dos dias de hoje e muito seguramente, dos anos que virão. Terão sempre um espaço especial no meu coração e na minha colecção de discos, a eles sempre me irei referir com elogios, com carinho, com boas, fantásticas recordações, com suor de tantos concertos aos quais assisti. Com um grande sorriso, enfim.

Iniciaram-se em 97 sob o nome de Thanatos, lançaram uma demo e um EP intitulado Melégnia e porque existia já uma banda com o mesmo nome, optaram pela denominação que utilizaram de 2001 a Setembro de 2011, altura em que anunciaram o cessar de actividades devido a divergências artísticas. Acompanhei-os durante mais de uma década um pouco por todo o lado, abanei os cabelos compridos, meti-me em várias mosh pits, saltei várias vezes do palco para cima do público, provei o suor salgado a escorrer-me pela cara, cantei, berrei, fiz que cantei, assisti aos show cases acústicos, escutei a mutação sonora evidenciada de disco para disco, usei t-shirts pretas com o bonito logo “TSO”, convivi com os músicos. Escrevi em várias publicações e espaços diferentes sobre os álbuns do passado, excepto sobre este que estão a ler agora; recordo-me de ter entrevistado alguns membros do grupo para o meu projecto final de graduação na universidade (mais uma vez, um grande obrigado), recordo-me de ter trocado impressões positivas com pessoas de fora de Portugal sobre a banda.

ThanatoSchizO resulta de uma mescla de duas entidades: “Thanatos” (o pulsar humano perante a morte, segundo Freud) e “SchizO” (de esquizofrenia), absorveram variadíssimas influências que vão desde sonoridades mais agrestes como o black, death, doom Metal e o lado mais exploratório e psicadélico do rock progressivo, a frescura étnica da world music e alguma electrónica. Neste disco, e como a banda teve o cuidado de o afirmar, o metal ficou de fora para dar asas à exploração desse lado experimental influenciado pela música tradicional portuguesa/folk e alguns dos seus instrumentos mais característicos, o cavaquinho e o acordeão, entre outros. Ainda no início das gravações, o antigo vocalista Eduardo Paulo decidiu abandonar o projecto, deixando assim muito mais espaço para que a voz de Patrícia Rodrigues atingisse um patamar que ela há muito procurava alcançar, obrigando também o guitarrista e mentor Guilhermino Martins a cantar as partes do ex-vocalista. 

Tal como os origamis japoneses, que consistem na arte de criar figuras a partir da dobra de papel, todos os temas do álbum sofreram uma mudança de roupagem. Uns, como o caso de RAW (agora RAWoid) – um dos temas mais brutais e assumidamente black metal do grupo - mostram-se quase irreconhecíveis, tal é a alteração que sofreram; outros, conseguiram manter a sua identidade própria, apesar das grandes mudanças. A bossa nova de Sweet Suicidal Serenade encaixa muito bem na linha inovadora e mais alegre que se faz sentir em todo o disco, o piano, o jogo de vozes e o crescendo final de The Journey’s Shiver são de uma beleza rara, assim como o xilofone, a electrónica e a atmosfera de Nightmares Within, um dos meus temas de eleição deste registo. A participação da Banda de Mateus (Grupo filarmónico de Vila Real), entre outros convidados criativos, contribuíu para que este Origami semi-acústico fosse um disco orgânico, vanguardista, adulto e muito, mas mesmo muito bonito. De facto, há tanto que foi explorado e aprimorado, que não me admiraria nada que o típico apreciador de metal ignorasse este registo, e isso seria uma pena. 

Recupero rapidamente as palavras de Guilhermino Martins sobre os anteriores registos: «Schizo Level, o disco mais extremo, o ponto de partida; InsomniousNightLift, a calma depois da tempestade. Muito introspectivo e melancólico. Turbulence, um álbum com temas poderosos e dinâmicos. Ideal para ser tocado em concerto; Zoom Code, um aprimorar do lado mais experimental da banda, por contraponto à cada vez maior importância dada às estruturas dos temas.»

Origami, na minha opinião, é uma extensão desse mesmo lado experimental de Zoom Code mais ousado, com um toque acústico, um instrumental bem trabalhado, e a voz única de Patrícia que por si só assume uma boa parte do mérito do disco. Espero que a banda um dia se junte novamente e que possa ultrapassar as divergências para gravar um novo registo. Até lá, peço a estes músicos para que se mantenham activos noutros projectos, pois a arte precisa deles. 

8.5/10

3 comentários:

  1. Quem sabe um dia uma TSO reunion seja possível..Até lá alguns deles continuam a contribuir para diferentes projectos pois parar era algo que nunca esteve em questão. Obrigado e continuação de um bom trabalho

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  2. estive a ouvir na net e considero ridiculo a musica deles

    THEE ORAKLE SÃO BEM MELHORES SEM SOMBRA DE DUVIDAS

    ABRAÇO PARA O ROMEU

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  3. Prezado anónimo 4/09/2013 às 11:06, esta review diz respeito a um àlbum de thanatoschizo, o quinto deles. O outro anónimo (31/08/2013 - 19:48) até poderia ser um deles e mesmo que o fosse não referiu em ponto algum os thee orakle, que por sinal foram mais um grande grupo trasmontano. Questão: o prezado anónimo (4/09/2013 às 11:06) sabe quem foram os TSO? Estranho ser vila-realense e não conhecer... Na volta, nem os thee orakle conhece...Quando o prezado anónimo 4/09/2013 às 11:06 tiver pelo menos uma demo bem gravada, (pelo menos uma sessão de estúdio no corpo) pode criticar! Até lá aprenda a tocar ferrinhos, pode ser que se oriente. Melhores cumprimentos

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