Nemesis foi o último romance de um dos mais galardoados escritores
norte-americanos dos últimos anos, Philip Roth, recentemente aposentado da
Literatura. Capítulo final numa série de quatro obras – Everyman (Todo-o-Mundo,
em português), The Humbling, Indignation (Indignação, idem) – onde aborda, essencialmente, a fragilidade do
ser humano enquanto ser que envelhece e perde faculdades e a falácia do sonho
americano.
Nesta obra, o veterano escritor
prossegue a contar-nos algo sobre o seu passado enquanto jovem em Newark, Nova
Jérsia, na década de 40. Esta década, onde os Estados Unidos derrotaram o
nazismo e o imperialismo nipónico em duras batalhas, adquire um sentimento
quase secundário para Eugene “Bucky” Cantor, um jovem de 20 e poucos anos que
queria muito servir o seu país na guerra mais sangrenta do séc. XX, mas que por
ver muito mal, foi-lhe recusada a sua participação; a verdadeira guerra que
Bucky tem pela frente, é a poliomielite, uma doença que naqueles tempos era
letal, principalmente nas crianças.
Quando o surto de poliomielite
ganha contornos assustadores no bairro judeu onde Bucky vive, o professor de
educação física e também treinador tem em mãos a maior desgraça que lhe podia
acontecer. Pouco a pouco, todos os rapazes saudáveis e cheios de vida que Bucky
conhece adoecem, acabando a grande maioria deles por morrer no hospital. Sem
qualquer tipo de certezas sobre a origem da epidemia, a paranóia reina entre os
moradores do bairro. Será que o problema está no calor? Será que são os miúdos
italianos que trazem o vírus? Estas e outras questões são colocadas a Bucky.
Ele, como é óbvio, não tem resposta.
Philip Roth passa em revista toda
a sua vida, ainda que esta obra não seja necessariamente bibliográfica; a
América dos anos 40, a saudade, a nostalgia parecem-me ser demasiado evidentes
ao longo do romance. Outra questão principal prende-se com Deus e a sua
existência: que tipo de Deus é este que tira a vida a crianças inocentes?
Philip Roth e Bucky, apesar das raízes judaicas, não parecem ser religiosos.
Bucky, ao longo da obra, tenta perceber como é possível que as pessoas à sua
volta acreditarem em Deus – uma divindade bondosa – quando todo o mundo parece
entrar em colapso.
Extremamente reflexivo e
inquisitivo, Nemesis – a confirmar-se
como último romance do autor - passa
a ideia de que Philip Roth possa eventualmente ter saído da cena literária com
alguma amargura, como ele deu a entender em entrevistas recentes. Uma boa obra,
sem dúvida, mas não a sua melhor.
Nota: esta crítica foi baseada na leitura da obra no seu idioma original, o inglês.
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