quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

«Drive»


“Melhor filme de 2011”. É desta forma que me apeteceu começar a escrever sobre um dos melhores filmes do final do ano que findou. No entanto, “melhor” é tão cliché e tão relativo que vou mesmo reformular o texto: Drive foi o melhor filme de 2011 porque foi aquele que, entre os que vi – e nem foi um ano mau para o Cinema -, foi o que mais despertou a minha atenção e me encheu as medidas. Não, também não me importa muito se o filme ou os seus actores ganham ou deixam de ganhar os Óscares. É-me indiferente.

Adaptado a partir do romance de James Sallis, Drive conta a estória de um homem sem nome que ganha a vida como duplo no cinema em cenas que envolvem automóveis e que, paralelamente, é um condutor de aluguer; passo a explicar: este condutor conhece toda e qualquer rua de Los Angeles como a palma da sua mão e quem o quiser contratar para fazer um assalto e precisar de alguém para fugir à polícia, dispõe dos serviços deste piloto rápido. No entanto, a partir do momento em que os assaltantes saem do automóvel para fazer o “trabalho”, passam a ter exactamente cinco minutos para regressarem ao bólide, caso contrário ficam por sua conta. É desta forma que decorre a primeira cena do filme, com um grandioso despiste às autoridades e sem qualquer rasto para trás. Estes “trabalhos” são feitos, regra geral, durante a noite.

No prédio deste condutor vive uma bonita jovem Irene, mãe de um filho, com a qual o condutor cria laços afectivos, especialmente com o pequeno Benicio. O marido de Irene é um homem que cumpre a sua pena na prisão e regressa com problemas por resolver com um poderoso homem de negócios que o ameaça e à sua família. Para que esta dívida seja definitivamente saldada, o marido de Irene contrata o condutor para assaltar uma loja de penhores, mas tudo não passava duma cilada e Standard acaba baleado. O condutor é um homem que não parece apresentar qualquer tipo de emoções ou laços afectivos, mas (mais) uma vez ameaçada Irene e Benicio e claramente traído, Ryan Gosling parte para uma vingança sangrenta e as torturas e as execuções são brutalmente explícitas.

Longe, mas muito longe mesmo de ser um filme de violência gratuita ou sangue a jorrar por todos os lados, Drive prima pelo desempenho sóbrio e brilhante de Ryan Gosling, pelos fantásticos ângulos de câmara e tensão constante na curta narrativa que compõe a película. É algo densa a acção em que todo o filme decorre, nomeadamente nas cenas nocturnas em que Ryan Gosling percorre as ruas da cidade dos anjos e na cena em que tem que escapar da loja de penhores numa das perseguições mais realistas de que há memória no cinema de Hollywood. Durante o dia, o palito na boca de Gosling dá a falsa sensação de calma, mas e relembro-o de que o condutor é um homem com sangue frio e treinador para matar; quando menos se espera, algo inesperado surge. Por detrás do sorriso silencioso de Gosling, há um ser que não perdoa traição e ameaças por aqueles os quais nem ele mesmo contaria criar laços de amizade e amor. Falando em amor, e para reiterar que este é um filme que se afasta do típico “hitman” hábil e sedutor, a cena de maior intimidade resume-se a um beijo num elevador - o que se segue a seguir ao beijo é bastante semelhante à cena mais explícita do francês Irreversível.

Lacónico e homem de pouquíssimas palavras, este é o melhor desempenho de Ryan Gosling até à data e um dos motivos pelos quais dá gosto ir ao cinema, mesmo que isso implique sentar-se ao lado de espectadores que não mastigam pipocas, mas que encontram nas mesmas um pasto celestial para um bom ruminar. A banda sonora (elemento muito das vezes relegado para segundo ou terceiro plano) também contribui para isso e, não sendo eu o maior adepto da electro-pop/ambient, Cliff Martinez elaborou um álbum de onde ressalvo o tema A Real Hero que se escuta num passeio do condutor com Irene e Benicio.

Aparentemente previsível e com um título que sugere algo de horrífico como 60 Segundos e um Nicholas Cage no papel principal, a verdade é que Drive, apesar de não ser totalmente original, é um daqueles filmes com um ambiente de cortar à faca a quase todo o instante, com algumas influências de Taxi Driver e tiques do mundo de Tarantino; no final, a vontade de rever os belos planos e o desempenho de Gosling é muita. Filmes envolventes como este não aparecem todos os meses. Nem todos os anos.

Argumento: Hossein Amini, James Sallis 
Realização: Nicolas Winding Refn

4 comentários:

  1. bah cara, vou fazer download hoje mesmo do filme e ver.

    Boa pedida. Tem uns filmes aqui nesse site:

    http://arapongasrockmotor.blogspot.com/

    que são mais lado B. Filmes de vários países e não somente americano.

    A legenda é português brasileiro, mas com certeza você entenderá.

    Abração e vou ver Driver e depois te falo o que achei.

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    Site Oficial: JimCarbonera.com
    Rascunhos: PalavraVadia.blogspot.com

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  2. Te liga nesse filme:

    http://arapongasrockmotor.blogspot.com/2009/05/thriller-cruel-picture-1974.html

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  3. porra, drive nem estreou no Brasil ainda! Só em fevereiro deste ano.

    Assim que estrear verei com certeza!

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  4. Olá, Jim
    Vou averiguar esses filmes e sites que me recomendaste, obrigado pela dica.
    Pensei também que o filme já tinha estreado no Brasil... mas de qualquer das formas, vai valer a espera, acredita!

    abraço

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