quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

*shels «Plains of the Purple Buffalo»


Aquilo que começou como algo puro e de grande valor, rapidamente se tornou em clichés e cópias de cópias. O movimento post-rock, que nos últimos vinte anos teve como máximos representantes Sigur Rós, Mogwai ou Grails, é algo que por muito que custe admitir, se tornou numa moda: foto promocional - quando incluída – abstracta, na medida em que os membros têm que parecer distraídos a olhar para o vazio; começar o tema de forma muito calma, inserir dois ou três riffs potentes, fazer crescer a intensidade, algumas palavras desconexas, e repetir até atingir, em média, os dez minutos. Aí está um álbum de post-rock.

Felizmente, ao longo dos últimos anos o género foi-se reinventando, muito graças ao esforço dos Swans, Neurosis, Pelican, Russian Circles, The Sea and Cake ou Tortoise, e o mercado sofreu algumas interrupções na estagnação. A juntar a este lote restrito temos os *shels, grupo norte-americano/britânico resultante da fusão de membros de Mahumodo, Devil Sold His Soul, Eden Maine e Fireappple Red, que se estreou em 2004 com o EP Wingfortheirsmiles e o, já icónico longa-duração, Sea of the Dying Dhow três anos mais tarde. No ano passado presentearam-nos com um dos melhores de 2011 em qualquer categoria e, na minha opinião, o trabalho mais forte do grupo até à data. A estrutura dos temas é variada e assenta bastante nos instrumentos de sopro, que conferem uma aura diferente ao já de si rico e atmosférico som, combinado com algumas letras positivas e bonitas. Apesar de algumas vocalizações mais estridentes que se fazem ouvir logo no primeiro tema, Journey to the Plains, há uma clara atenção direccionada à melodia instrumental e vocal, totalmente patente, por exemplo nas duas partes do tema homónimo e nomeadamente no tema que mais impressiona, Butterflies on Luci’s Way.

A riqueza instrumental e a diversificação da mesma presente no disco, tornam-no no melhor disco deste conjunto, fugindo sempre ao marasmo que acontece ao fim de dois, três minutos no actual panorama musical; nenhum dos temas incluídos neste trabalho poderia ter sido excluído, tal é a forma coesa – brilhante, mesmo – como  Plains of the Purple Buffalo soa, não havendo espaço para “fillers” ou plágios. Tudo aqui é genuíno, arrogantemente original e terno, capaz de satisfazer o ouvido e a mente e crescer cada vez que o disco começa a girar.

9/10

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