Algures entre o desespero e a fome, este romance transborda humildade por todos os seus poros, mesmo quando parece já não haver fuga à tragédia. Herta Müller, galardoada em 2009 com o Nobel da Literatura, prossegue com a sua crítica ao regime comunista e a sua invasão à Roménia e perseguição aos alemães nascidos naquele país, findada a Segunda Guerra Mundial em 1945.
Leo Auberg, de 17 anos, acaba deportado para os campos de concentração da União Soviética e, através desta personagem, a autora reúne pedacinhos da vida do seu amigo e poeta Oskar Pastior, recriando o horror do desprezo pelas vidas de inocentes que pereceram pelas mãos soviéticas. Sem qualquer aviso e sem tempo para se despedirem das famílias, milhares de romeno-alemães foram laborar nos campos de concentração da extrema-esquerda radical, enfrentando condições climatéricas arrepiantes e condições de vida que os judeus de Auschwitz haviam experienciado, lamentavelmente. A prosa de Müller é bastante poética, honesta e crua. Demasiado crua, por vezes.
As personagens que fazem parte desta obra fazem jus ao título da mesma. O pouco ou nada que têm está à vista e, nos seus corações, encontram forças para continuarem a viver, a regozijarem-se sempre que há uma batata crua para comerem, a valorizarem aquilo que a nós, os que vivemos numa sociedade aparentemente livre e materialista, nos causa indiferença. Não só é exposta a miséria e a brutalidade do pós-guerra, como também é servida uma lição de humildade e gratidão pelas pequenas coisas que nos rodeiam. Estar vivo e ter uma cama onde dormir, comparado com o realismo com que a autora descreve a narrativa, são luxos.
Tudo o Que Eu Tenho Trago Comigo é um romance que não deixará, de forma alguma, indiferentes os seus leitores. Praticamente tudo nele tem a capacidade de comover e sensibilizar, e, mesmo apesar desta situação, isso é suficiente para o leitor desfrute e encontre também alegria neste terno testemunho.
Ainda não li nada da Herta M.
ResponderEliminarEstive em dúvida se começava a ler um da Doris Lessing ou um desta Nobel. Escolhi começar pela Doris. Não arrependi-me.;)
Ainda não li nada de Lessing porque de momento estou com muitos livros em inglês cá em casa e nenhum é dela; mal "emagreça" a estante, investirei com toda a certeza em Lessing.
ResponderEliminarQuanto a Müller, confesso que gosto bastante da autora :)
alguem me diz um bom excerto do livro e me explica?
ResponderEliminarsff