Abril Despedaçado é um romance daqueles livros invulgarmente deslocados
da esfera temporal e das habituais temáticas abordadas no romance contemporâneo.
Ismail Kadaré é um escritor albanês que apesar de viver em França, mantém-se
ligado ao seu país natal, abordando assim várias questões relacionadas com a
terra que o viu crescer.
Esta obra tem por cenário a
região dos Mirdites, na Albânia, onde impera a lei sagrada do Kanun há vários séculos; este Kanun é um conjunto de regras sócio-morais
pelas quais a população se rege, incluindo matar alguém para recuperar a honra
e o respeito da comunidade. Assim, Gjorg tem que matar o assassino do seu irmão
para repor a justiça e esperar que a família do assassino – uma vez morto, passa
obviamente a vítima – o mate. Este ciclo de vingança entre as duas famílias dura
há décadas e vai continuar desta forma até que alguém decida quebrar as regras
sagradas. Mas quem o fará? Estas leis existem há tanto tempo e são tão
importantes que as próprias autoridades e governo albanês se demarcam das
mesmas. Puro sangue por sangue bárbaro.
Paralelamente, estes rituais são
observados e analisados por Bessian Vorpsi, um escritor, e a sua jovem esposa
Diana. O casal desloca-se até ao coração do Kanun
para compreender melhor o modo como a população se comporta em época de
vingança, mas é Diana quem tem mais dificuldades em assimilar estes estranhos
costumes; Bessian, que já conhecia um pouco da região e do Kanun, consegue explicar algumas coisas à sua esposa, mas até ele se
deixa maravilhar e hipnotizar pela invulgaridade das cerimónias que decorrem
naquela região isolada.
Abril Despedaçado apresenta-se escrito de formas simples e sugere a
contemplação das descrições que o autor pinta, remetendo o leitor para o
fascínio do Kanun e os costumes do
seu país natal. No entanto, o livro revelou-se-me incrivelmente aborrecido e
repetitivo, muito devido à tensão e aparente serenidade que reina nos Mirdites;
o romance desmotiva tanto que fiquei sem interesse em explorar a extensa obra
de Kadaré.
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