domingo, 21 de outubro de 2012

Julian Barnes «The Sense of an Ending»



A importância que tendemos a dar a prémios conceituados tem vindo a decrescer, creio eu. Ellen Johnson-Sirleaf venceu em 2011 o Prémio Nobel da Paz e este ano defendeu, imagine-se, uma lei anti-homossexual na Libéria, país que governa, recentemente a União Europeia venceu o mesmo prémio na edição deste ano – mas sobre isto, não me pronuncio porque no Contracultura Aplicada não se aborda a política -, Harold Pinter, que dedicou a sua vida ao teatro e não necessariamente ao romance, venceu o Nobel da Literatura em 2005. Em 2011 foi Julian Barnes a vencer o prestigiado Man Booker Prize com este The Sense of an Ending (O Sentido do Fim, Quetzal).

Antes de mais, convém dizer que não há nada de errado com Julian Barnes ou com esta obra de 150 páginas. A escrita é razoável e a temática incide sobre as relações entre namorados e amigos, até onde estas podem ditar a felicidade ou infelicidade, com um toque subliminar filosófico a adornar o romance. Por outro lado, convém igualmente informar que a obra não é - como os críticos apregoaram - fantástica, sublime, ou muito menos um romance de «frases perfeitas, por vezes a raiar o sublime», como destacou José Mário Silva.

Julian Barnes explora a vida de Tony Webster, um homem de 60 anos a passar por uma crise de meia-idade existencial que relembra a sua namorada e amigos do passado. O narrador movimenta-se entre a actualidade, a era digital do e-mail e iPhone, e os anos 60, onde se escreviam cartas e a vida decorria de forma mais descontraída. Nos tempos de universitário, Tony envolveu-se com Veronica, uma bonita rapariga londrina que o viria a trocar por Adrian, um jovem inteligente profundamente envolvido na Filosofia e História. Paralelamente, Tony e Veronica têm um par de amigos que aparecem no início do romance, mas que rapidamente desaparecem da narrativa sem grande explicação – e começa aqui um dos problemas do livro. Com o suicídio de Adrian e a forma misteriosa como este deixa o seu diário a Tony, a estória da obra parece fechar-se. A partir daqui, Tony tenta descobrir o porquê do suicídio, ao mesmo tempo que se aproxima de Veronica.

Para além de ser excessivamente curto e repetitivo, The Sense of an Ending é mediano em vários aspectos, nomeadamente na acção e espaço, onde pouco ou nada acontece; a seu favor tem o “food for thought” da temática da solidão que Barnes imprime na escrita. Como dizia inicialmente, e para nosso próprio bem, é bom que ignoremos por completo os grandes galardões e prémios literários, pois fazem parte cada vez mais de uma indústria cosmética.
 
 Nota: esta crítica foi baseada na leitura da obra no seu idioma original, o inglês.

2 comentários:

  1. Olá Simão,

    Na minha opinião, uma das melhores coisas que os blogs proporcionam é termos muitas opiniões sobre o mesmo tema ou assunto e de essa informação ser de acesso fácil.
    Para ser sincero discordo da tua opinião sobre está obra.
    Quando afirmas: "Tony e Veronica têm um par de amigos que aparecem no início do romance, mas que rapidamente desaparecem da narrativa sem grande explicação – e começa aqui um dos problemas do livro". Não vejo nisso um problema, antes pelo contrário. Essas personagem já nada traziam de novo ao livro.
    Também quando afirma: “The Sense of an Ending é mediano em vários aspectos, nomeadamente na acção e espaço”. Concordo contigo, mas vejo nisso um fator positivo e não negativo, esse aspeto é comum a quase todos os autores mais contemporâneos.
    Deixo aqui o link da sugestão que fiz da obra, se quiseres podemos trocar mais impressões sobre o livro, julgo que ganharemos com isso.
    http://sugestaodeleitura.blogspot.pt/search/label/O%20Sentido%20do%20Fim

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  2. Olá, Tiago.
    Tens toda a razão, a blogosfera é rica em opiniões diversas e é isso, acredito, que a torna numa das mais fortes comunidades da internet. Gostei muito de ler a tua crítica e agradeço as tuas palavras; senti que os amigos comuns a Veronica e Tony deveriam ter desempenhado um papel mais importante no desenrolar da narrativa, até porque no início do romance, Tony, Adrian e esses amigos - cujos nomes me escapam! - fazem parte de um grupo coeso - lembrou-me o "Clube dos Poetas Mortos", inclusive.
    A acção também podia variar um pouco mais, ou pelo menos o autor poderia tê-la tornado mais dinâmica e conservar na mesma o cepticismo negativo de Tony.
    Enfim, para Man Booker Prize esperava muito, mas muito mais... e por outro lado, nem por isso. Estes grandes galardões perderam toda a sua essência e riqueza, a meu ver. Já são demasiadas decepções para acreditar neles.

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