A grande vantagem de se ler o
livro antes de se ver o filme prende-se não só com a possibilidade de o próprio
leitor se tornar o realizador, mas também com o facto de que geralmente o filme
é incompleto, comparativamente com o romance. E porquê? Um filme parte da
interpretação que o realizador fez da obra. Ora, Stanley Kubrick levou a cabo
uma grande adaptação deste romance de Anthony Burgess, no entanto o cineasta
ter-se-á esquecido do último capítulo do romance: a versão publicada nos
Estados Unidos omitiu o último capítulo do romance, lamentavelmente, e foi a
partir dessa edição que o cineasta se baseou.
A Clockwork Orange é um grande clássico da Literatura moderna do
século passado. Tal como em Nineteen
Eighty-Four (George Orwell) e Brave
New World (Aldous Huxley), este livro tem como cenário um mundo pós-industrial
dominado por governos totalitários opressores, onde a violência é rainha e
senhora, e a liberdade de expressão simplesmente não abunda. Inserido num clima
de guerra fria, publicado em 1962, A
Clockwork Orange passa-se num país europeu – presumivelmente o Reino Unido
– por volta de 1972 e conta-nos a estória de Alex, um hooligan de 15 anos, que
após ter cometido várias violações, agressões e inclusive assassinato, é preso
e submetido a um tratamento de lavagem cerebral.
Um dos aspectos que torna este
livro incrivelmente atractivo e de certa forma joyciano, está no idioma
especial que Burgess inventou: o nadsat;
este idioma resulta da mistura de russo, polaco e inglês e é o idioma calão que
os adolescentes usam. A edição da Penguin não inclui o significado deste
estranho vocabulário, mas basta escrever “nadsat” no Google para obter páginas
de conversão de nadsat para inglês.
Ao início torna-se complicado compreender que “slooshy” significa “ouvir”, ou
que “gulliver” é “cabeça”, mas é um desafio que ao fim de algumas páginas se torna
enriquecedor, acredite. Voltando a Alex, cujo nome vem do latino “a-lex”e
significa “sem lei”, temos um adolescente completamente virado para a ultra
violência e desrespeito pelas regras sociais, e temos também um indivíduo
devoto a Bach e Beethoven, sobretudo este último: a 9ª Sinfonia é o tema favorito deste rufia. Após violar a matar uma
mulher, e traído pelo seu gangue, Alex é enviado para a prisão, onde é depois submetido
a um tratamento de lavagem cerebral anti-violência.
A mensagem principal de Burgess
consiste na liberdade de escolha que todos nós temos o direito de fazer.
Percebe-se que a obra transmite a ideia de que se calhar é melhor um ser humano
mau do que ser condicionado a ser bom - ainda assim, Burgess lamentou o facto
de que o romance tenha sido mal interpretado pelos críticos e media
conservadora. A mensagem secundária, a meu ver, prende-se com o cuidado que
temos que ter com os governos que elegemos e o poder que lhes damos enquanto
cidadãos. Até que ponto é preferível sermos observados e controlados? – de
qualquer das formas, A Clockwork Orange
não é tão extremista quanto George Orwell.
A adaptação de Stanley Kubrick é
algo que só pode ser totalmente compreendido com a leitura desta ímpar, ímpar
obra.
Nota: esta crítica foi baseada na leitura da obra no seu idioma original, o inglês.
Nota: esta crítica foi baseada na leitura da obra no seu idioma original, o inglês.
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