Baseado no romance Mrs.
Dalloway de Virginia Woolf, As Horas
é uma singela e sincronizada forma de contar a vida de três mulheres que, sem o
saberem, vivem vidas semelhantes e interligadas. Michael Cunningham, vencedor
do Prémio Pullitzer (1999) graças a esta obra, recria a existência de Virginia
Woolf no momento em que esta se encontrava a escrever Mrs. Dalloway, por volta de 1923, mantendo-se maioritariamente fiel
à vida de Woolf, estabelecendo uma ponte de ligação a Mrs. Brown e Mrs.
Dalloway; estas três senhoras combatem a angústia interior e tentam encontrar o
seu verdadeiro papel na sociedade.
Escrito por capítulos alternados entre as três mulheres, todo
o livro gira à volta desta luta que as intervenientes travam: Woolf luta por
escrever bons romances e controlar os impulsos suicidas; Mrs. Brown, uma típica
dona de casa norte-americana, finge ser feliz num casamento pós-segunda guerra mundial,
Mrs. Dalloway, aparentemente a mais feliz das três senhoras, é uma lésbica
nova-iorquina que tenta organizar uma festa para o seu amigo Richard – que lhe
pôs a alcunha de Mrs. Dalloway -, um poeta nos seus últimos dias de vida,
vítima de Sida.
A liberdade sexual da homossexualidade das três
protagonistas é outro dos pontos-chave da obra. Para além do tédio que Woolf
sente ao viver no campo, afastada do ambiente de Londres, a sua vida muda
quando beija outra mulher, sentindo-se mais “viva”, por assim dizer, mais
realizada interiormente, portanto; Mrs. Brown sente o mesmo quando beija uma
amiga e se apercebe de que nunca será feliz a cozinhar bacon para o filho e
marido às 7h da manhã; Mrs. Dalloway, de seu verdadeiro nome Clarissa, como
referido é lésbica - partilha habitação com a sua companheira Sally - é
extremamente culta, ligada às artes e Literatura e toma conta do ex-parceiro
Richard. Creio haver aqui uma afirmação crescente entre os três períodos em que
as protagonistas vivem em termos de sexualidade, cimentando-se em Mrs.
Dalloway.
As Horas retrata
bem a ausência de realização pessoal e consequente desequilíbrio emocional de
três gerações de mulheres distintas, porém interrelacionadas, explorando ao
mesmo tempo a questão da homossexualidade É também, pois claro, um tributo a
Virginia Woolf.
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