James Joyce, autor de uma das obras mais difíceis de traduzir de que há memória – Ulisses -, estreou-se nos romances com este seu retrato semi-autobiográfico, na pele do jovem Stephen Dedalus, em 1916, marcando um período de ouro no panorama literário mundial. Embora nem sempre compreendido e reconhecido enquanto vivo, o James Joyce “post-mortem” é hoje considerado um dos maiores génios que a cultura viu nascer.
Esta obra retrata a vida da
personagem Stephen Dedalus – da mitologia grega Daedalus, visto por muitos como
o alter-ego de Joyce -, a questão da Irlanda em relação ao domínio britânico, a
liberdade intelectual individual, a arte, a estética e o papel da
religião/cristianismo. Igualmente, Joyce assinala nesta obra a consistência do
uso do fluxo de consciência - técnica utilizada por outros ícones do
modernismo, como José Saramago e William Faulkner, entre outros -, que remete o
leitor ainda mais para o interior da personagem e os seus pensamentos e
atitudes; estes diálogos carregados de ideias, que tantas questões levantam no
ser de Stephen Dedalus, abrilhantaram ainda mais a sua obra e o carácter semi-autobiográfico
instrospectivo de Dedalus – embora muitos acreditem que Dedalus é James Joyce a
cem por cento.
O Retrato do Autor Quando Jovem,
aborda na minha óptica as questões apontadas no parágrafo anterior, assim como
a epifania do despertar na vida de uma personagem que cresce no seio de uma família
católica, como a esmagadora maioria dos irlandeses, que estuda num colégio
igualmente católico, até ao dia em que Dedalus põe em questão a autoridade que
o cristianismo coloca sobre a sua liberdade sócio-intelectual e artística –
daqui provém o “artista” do título da obra, suponho; este questionar num
indivíduo que a certa altura equaciona dedicar-se ao ensino da doutrina cristã
e é bafejado com a visão de uma linda mulher, marcam e de que maneira uma obra
muito bem escrita e estruturada, ainda que sofra a espaços de alguns momentos
entediantes, como o caso dos diálogos entre Dedalus e algumas figuras da Igreja
católica.
Uma obra plena de simbolismo recomendada a todos os amantes da grande Literatura.
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