domingo, 8 de setembro de 2013

Ola Nilsson «Os Cães»




No nordeste da Suécia, longe das comodidades e da vida confortável que o centro económico de Estocolmo e Gotemburgo oferece, há vilas, aldeias e pequenas cidades com pouca densidade populacional onde o dia-a-dia é deprimente, funcionando o álcool como analgésico.

Ola Nilsson (n. 1972), longe de ser muito famoso por estes lados, é um autor sueco vencedor do Prémio Literário Norrland 2010, que a Eucleia publica num catálogo que inclui outros autores nórdicos de grande interesse. Os Cães, primeiro capítulo de uma trilogia composta por Os Anjos e No Amor se Ancora a Memória), aborda a vida de cinco adolescentes presos na ruralidade de um nordeste sueco que pouco tem a ver com a imagem tradicional que o país exporta; a perigosa e misteriosa ponte onde a matilha de adolescentes, cujas idades variam entre os 14 e os 16 anos, passa os tempos livres, é o centro onde a acção deste curto romance decorre.

Esta ponte - que na minha opinião faz precisamente a ponte entre a adolescência e a vida adulta da aldeia – funciona como escape a um grupo de adolescentes que encontra, no álcool, sexo e mergulhos da ponte para o rio, uma espécie de local seguro, longe do resto do mundo, longe das suas famílias disfuncionais. Ola Nilsson imprime um carácter triste, sóbrio e directo às suas palavras, palavras que muitas das vezes contrastam com a imagem gráfica que o leitor absorve da narrativa; um dos aspectos mais duros e pesados da obra encontra-se nas interacções e relações familiares das personagens, pautados por uma certa distância entre pais e filhos, uma quase indirecta imposição de maturidade forçada que os progenitores impingem aos filhos.

Não obstante a vida independente na sociedade Sueca – nórdica, em geral – começar por volta dos 16 anos, em Os Cães há uma ausência de afecto e acompanhamento deste processo de independência que, a meu ver, os pais devem seguir de perto; a obra sugere várias vezes que são os mais novos que tratam dos mais velhos, invertendo assim os papéis da responsabilidade que liga os pais aos filhos.

O título do romance poderá estar ligado a esta capacidade de crescimento à força e falta de figuras paternais – ou figuras que se distanciam das crias demasiadamente cedo – que faz parte da vida dos cães, como é sabido. As pouco mais de cem páginas de Os Cães, ainda que curtas, escondem um alto impacto visual.

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