No nordeste da Suécia, longe das comodidades e da vida
confortável que o centro económico de Estocolmo e Gotemburgo oferece, há vilas,
aldeias e pequenas cidades com pouca densidade populacional onde o dia-a-dia é
deprimente, funcionando o álcool como analgésico.
Ola Nilsson (n. 1972), longe de ser muito famoso por estes
lados, é um autor sueco vencedor do Prémio Literário Norrland 2010, que a
Eucleia publica num catálogo que inclui outros autores nórdicos de grande
interesse. Os Cães, primeiro capítulo
de uma trilogia composta por Os Anjos
e No Amor se Ancora a Memória),
aborda a vida de cinco adolescentes presos na ruralidade de um nordeste sueco
que pouco tem a ver com a imagem tradicional que o país exporta; a perigosa e
misteriosa ponte onde a matilha de adolescentes, cujas idades variam entre os
14 e os 16 anos, passa os tempos livres, é o centro onde a acção deste curto
romance decorre.
Esta ponte - que na minha opinião faz precisamente a ponte
entre a adolescência e a vida adulta da aldeia – funciona como escape a um
grupo de adolescentes que encontra, no álcool, sexo e mergulhos da ponte para o
rio, uma espécie de local seguro, longe do resto do mundo, longe das suas
famílias disfuncionais. Ola Nilsson imprime um carácter triste, sóbrio e
directo às suas palavras, palavras que muitas das vezes contrastam com a imagem
gráfica que o leitor absorve da narrativa; um dos aspectos mais duros e pesados
da obra encontra-se nas interacções e relações familiares das personagens,
pautados por uma certa distância entre pais e filhos, uma quase indirecta imposição
de maturidade forçada que os progenitores impingem aos filhos.
Não obstante a vida independente na sociedade Sueca –
nórdica, em geral – começar por volta dos 16 anos, em Os Cães há uma ausência
de afecto e acompanhamento deste processo de independência que, a meu ver, os
pais devem seguir de perto; a obra sugere várias vezes que são os mais novos que tratam
dos mais velhos, invertendo assim os papéis da responsabilidade que liga os pais aos filhos.
O título do romance poderá estar ligado a esta capacidade de
crescimento à força e falta de figuras paternais – ou figuras que se distanciam
das crias demasiadamente cedo – que faz parte da vida dos cães, como é sabido. As
pouco mais de cem páginas de Os Cães,
ainda que curtas, escondem um alto impacto visual.
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