Por vezes, nem sempre todos os livros com
palavrões e calão são interessantes. Os impropérios e a linguagem de rua podem
e devem ser utilizada, mas têm a sua hora e local, saber empregá-los
convenientemente acaba por ser mais difícil do que o que parece.
Irvine Welsh fá-lo extremamente bem, assim
como a geração Beat o fez no passado, mas o mesmo não se pode dizer de Maria
O., escritora que «nasceu em Vila Nova de Gaia há mais de 20 anos. Tem
escrito muito. Ainda está viva» e sobre a qual nada mais se sabe. Ora, o
intuito desta obra seria fazer «um retrato do cu da Europa: Portugal no seu
melhor», «um guião à la Quentin Tarantino dos velhos tempos, mas escrito por
uma portuguesa», «a história de uma vila portuguesa e da polémica criada
em torno de uma escultura. Políticos corruptos, falsos moralistas,
promiscuidade e reviravoltas surpreendentes num livro irónico e divertido.»
A sério?
Vamos às personagens.
Temos Quim Tiliano Zibeta, Isaac
Zibeta, Possidónia, Zimbelina, Deivid Uva, entre outros, e aproveito
para perguntar o porquê de não haver o Quim Estacionâncio, o Fernando Rocha ou o
Zé Corninho. A única explicação para estes “bizarros” nomes de pessoas (?) será
que a obra se passe num principado/república das bananas recente, onde os
habitantes possuem estes apelidos.
Pois.
A estória desta obra anda à volta das aventuras e desventuras
destas personagens que se envolvem em grandes orgias.
A
obra é tão extravagante e vanguardista, que podemos ler nas primeiras páginas
um exemplo de pura literatura transgressiva em modo low cost, uma espécie de
Marquis de Sade castrado: «Zibelina acabara de parir e tinha leite nas mamas.
Quim Tiliano Zibeta, o homem cujo esperma atingiu o supremo, e o único
aceitável, propósito para a sua líquida e incómoda existência num rápido
encontro com um óvulo da minha mãe (…) observava há já tempo considerável o
modo como a sua robusta empregada doméstica refletia no rosto a atmosfera
húmida e cansada daquela tarde de primavera. Na verdade, o que o fascinava
naquele instante (…) era a maneira hábil como Zibelina se inclinava sobre o
fogão, limpando-o apenas com uma mão, enquanto a outra segurava um dos seus
seios, inchados sob a bata, a querer fugir.– Estás a segurar porquê? Vai cair?–
Têm muito leite. Às vezes dói.»
Este
é dos parágrafos mais longos e coerentes presentes nesta obra.
Perguntei-me,
enquanto lia entediado esta obra, se isto é mesmo publicado pela Eucleia, a
editora que nos traz romances nórdicos com qualidade. E é mesmo.
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