Não Humano, publicado no período em que a poeira da II Guerra
Mundial assentava e muita indefinição quanto ao futuro do Japão pairava no ar,
apresenta-nos uma visão pessimista e niilista sobre o ser humano. Baseado em
eventos da sua própria vida, Osamu Dazai construiu aqui um romance opressor –
para o leitor – e cru que ainda hoje é considerado um ícone e best-seller em
terras nipónicas.
«De facto, quanto mais
cuidadosamente examinas o rosto sorridente da criança, mais sentes um horror
indescritível e atroz a trepar por ti acima. Vês que, na verdade, não é, de
todo, um rosto sorridente. O rapaz não tem um único indício de um sorriso.» (pág.
10): esta criança é Yozo, personagem central de todo o romance, um indivíduo que
cria uma espécie de máscara de ferro para enganar todos os que o rodeiam.
Incapaz de ser feliz, o jovem Yozo finge sorrisos, inventa felicidade, faz
«palhaçadas» para se inserir numa sociedade que o rejeita. Este distanciamento
social resulta muito provavelmente da ausência de uma figura paterna no seu
crescimento infantil: «Mesmo quando o meu pai e eu vivíamos na mesma casa, ele
mantinha-se tão ocupado a receber convidados ou a sair que, por vezes,
decorriam três ou quatro dias sem nos vermos. Isto, todavia, não tornou a sua presença
menos opressiva e intimidante.» (pág. 50).
À medida que cresce e falha na vida,
à medida que o desespero e o negativismo se apoderam da mente de Yozo, coisas
más acontecem não só a si mesmo, como também aos que o rodeiam. A desesperante
descida aos infernos e gradual auto-destruição combinada com perda de
sentimentos pela vida alheia inclui uma tentativa de suicídio com uma rapariga,
ainda que só morra a amiga (curiosamente, na vida real o autor suicida-se juntamente
com a sua companheira em 1948), alcoolismo extremo , morfina e perda de lucidez
entre o real e a loucura. Não importa nada, simplesmente.
De página para página, a dor e a
insustentabilidade face ao quotidiano aumentam. Não sendo difícil de adivinhar
o desfecho do final da obra, Não Humano
transmite uma carga tão negativa e pesada que obriga o leitor a sentir
compaixão pelo anti-herói Yozo (e também Osamu Dazai).
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