domingo, 16 de janeiro de 2011

Haruki Murakami «A Sul da Fronteira, A Oeste do Sol»


Confesso que a pouco e pouco cada vez mais me vou tornando apreciador dos livros de Haruki Murakami e a vontade em comprar mais um romance do japonês aumentou consideravelmente depois das leituras de Norwegian Wood e de A Sul da Fronteira, A Oeste do Sol. 

O escritor tem uma forma peculiar de (des)crever amor, amizade e relações entre pessoas que me fazem lembrar um pouco daquela melancolia estranha que Franz Kafka aplicou na sua curta existência literária. Há uma enorme sensação de que a personagem tem tudo aquilo o que precisa para viver feliz, de que a vida da mesma é algo que todos nós gostaríamos de ter, e no entanto há sempre algo que falha, algo que nos enfraquece e tira a vontade de sorrir. É nesse aspecto que este romance toca de forma trágica, sem apelo, apagando um pouco a luz do mundo.

Hajime, a personagem principal, nasceu em 1951, filho único de uma família da classe média num Japão a recuperar do pós-guerra, conhece Shimamoto, uma estranha rapariga com uma deficiência numa perna que rapidamente se torna na sua melhor amiga, apesar de os laços de amizade entre ambos não parecerem fortes. O elemento mais simbólico que une estas duas pessoas é o disco que Shimamoto tem em casa, de Nat King Cole intitulado South of the Border; os dois adolescentes aparecem em várias ocasiões a ouvir e a discutir a música jazz. Suponho que este momento fosse o grande “escape” que tanto um, como outro procuram para se refugiarem do estigma de serem filhos únicos numa década onde isso era muito invulgar e que originava algum mal-estar entre famílias.

Com o passar do tempo, e ainda na adolescência, as personagens acabam por se distanciar e perder o contacto entre si. Hajime começa a namorar com Izumi no liceu, até que acaba por se casar com Yukiko, já com trinta anos e acaba por abrir um bar de jazz de grande sucesso. É nesta altura que Shimamoto regressa à vida de Hajime, prestando-lhe uma visita ao bar, e é também este o momento que desperta o amor entre ambos. O disco de Nat King Cole aparece mais uma vez nesta relação condenada ao fracasso.

Há aqui toda uma forte carga erótico/sensual bastante invulgar e uma dicotomia estranha entre felicidade/miséria – por vezes escritas numa simbologia que está verdadeiramente nas entrelinhas (atente com atenção no título e no final do livro) – já explorada em Norwegian Wood que tem enorme potencial para seduzir qualquer tipo de leitor, independentemente de as suas escolhas literárias recaírem em autores que não tenham muito em comum com Haruki Murakami.

2 comentários:

  1. Esse ainda está na estante para ser lido, a par de "O Elefante Evapora-se", mas estou a ler um Murakami diferente, Ryu Murakami, que não lhe fica nada atrás, se bem que estilos diferentes

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  2. Pensei que já tinhas lido este. Tenho aqui o elefante e o kafka, mas tou com uma daquelas vontades para ler o toni que nem te conto haha

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