José Luís Peixoto faz parte de uma jovem geração de escritores portugueses que se caracteriza por ter ganho o Prémio José Saramago e, acima de tudo, por realmente se mostrar num patamar bem elevado naquilo que tem vindo a fazer, com obras que já igualaram – no mínimo – algumas das que o Nobel português escreveu.
Valter Hugo Mãe arrasa com o remorso de baltazar serapião (“um verdadeiro tsunami literário”, nas próprias palavras de José Saramago), Gonçalo M. Tavares realiza um grande exercício de precisão germânica com a tetralogia O Reino (Um Homem: Klaus Klump, A Máquina de Joseph Walser, Jerusalém e Aprender a Rezar na Era da Técnica) e José Luís Peixoto é dotado duma extraordinária capacidade de nos silenciar e fechar os olhos em Cemitério de Pianos, só para citar aquele que me parece ser o seu melhor registo.
Livro é um livro que se distingue dos anteriores de José Luís Peixoto, na medida em que a temática utilizada na obra incidir num passado que se está a repetir no nosso presente: a emigração portuguesa, uma temática que se distancia um pouco do ambiente de fantasia, vida/morte ou “fim do mundo” presente em livros como Uma Casa na Escuridão ou Nenhum Olhar, entre outros. Num ambiente rural duma pequena aldeia do interior de Portugal, vivem Ilídio e Adelaide e o amor proibido de ambos, preso pelas regras sociais da época; nesta primeira parte do livro, é retratado o Portugal miserável, triste e preso ao regime fascista que limitou o crescimento do nosso país e que tanta dor causou aos seus habitantes e que levava, sobretudo na década de sessenta e setenta, a que as pessoas emigrassem em especial para França, tal como Ilídio e Adelaide fazem na obra.
A segunda parte do livro baseia-se na felicidade que foi o fim do regime salazarista e a felicidade que a revolução de 25 de Abril em 1974 trouxe aos habitantes e também ao nosso narrador que, curiosamente, nasce em Abril de 1974. Este narrador transmite ao largo de todo o livro uma sensação de que muitos dos acontecimentos narrados são autobiográficos: este narrador (ausente, diga-se de passagem) nasce em 1974, tal como José Luís Peixoto; a aldeia em questão parece ser mesmo Galveias, de onde o nosso escritor é natural; as personagens presentes existiram de facto e os pais de José Luís Peixoto também foram emigrantes em França que regressaram a Portugal.
É uma escrita que sem colocar totalmente de parte os cenários de miséria e sensações de estupefacção que provoca, se revela bem mais alegre, rápida e menos confusa, chegando ao ponto de o escritor de brincar com o leitor através de situações e jogos de palavras hilariantes que muitas vezes surgem do nada. Embora a temática do regime fascista seja predominante, Livro não envereda pelo neo-realismo de Dinossauro Excelentíssimo de José Cardoso Pires ou A Cidade das Flores de Augusto Abelaira. Recomendado a todos aqueles que seguem o apaixonante trajecto literário que José Luís Peixoto partilha connosco.
É o meu preferido ;)
ResponderEliminarE, já agora, acho que o valter hugo mãe te mataria se visse o título de qualquer dos seus livros com letras maiúsculas!
Nah, o valter não. ele tem o estilo peculiar dele na escrita, mas no meu blog todos os livros/autores seguem a mesma "formatação" :)
ResponderEliminarmas o título do livro é em letras minúsculas...
ResponderEliminarhmmm tenho que averiguar melhor LOL
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