Quando vimos ao mundo, são os nossos pais que nos ensinam a viver, a crescer, que nos ajudam a alimentar, dão-nos a papa, oferecem-nos gelados, dão-nos banho e protegem-nos do mundo. Acabamos todos por envelhecer, até ao ponto em que somos tão velhos e com tanta necessidade de nos protegermos, que precisamos de alguém que cuide de nós. É nessa etapa que nós, que uma vez fomos ensinados a gatinhar e a caminhar, que temos que ajudar os nossos pais, quando eles se tornam “crianças” novamente.
Philip Roth escreveu este poderoso livro sobre a vida e morte do seu pai, Herman, desde o momento em que este adoece repentinamente e deixa de ser ele mesmo. O pai Herman, um homem robusto e encantador, é confrontado com fortes dores de cabeça e decide consultar um médico, acreditando sempre que era algo passageiro e que ele seria mais forte do que o que tivesse de acontecer de mal. Essas dores de cabeça eram um tumor cerebral que, com mais uns exames aprofundados, se revela como um cancro. As hipóteses de Herman sobreviver são escassas e passariam por uma operação muito delicada e perigosa, com uma taxa de eficácia – sobrevivência – muito reduzida.
Philip Roth e o resto da família vão esperando pelo melhor momento para contar ao pai a gravidade da doença. Quando confrontado com os factos, Herman e o próprio Philip e o resto da família decidem que a operação não terá lugar, preferindo poupar Herman a dias intermináveis em hospitais. O autor (des)creve-nos, por um lado, todo o inferno que o pai passa até chegar o dia da sua morte: perda de visão, de audição, de memória, dificuldades motoras e rotinas do dia-a-dia, como o banho ou as refeições, que o seu pai enfrentou; por outro lado, há o lado positivo da história: este acontecimento aproxima filho e pai numa relação de intimidade que parecia esquecida no passado. Desde o primeiro dia em que adoece, até ao que morre, Herman mostra uma dignidade exemplar, uma grande pessoa com outra também grande ao seu lado, Philip.
Várias referências judaicas são-nos relatadas ao longo do livro, o que torna ainda mais enriquecedora a sua leitura, visto que a religião judaica é um pouco reservada no que á sua exposição diz respeito. Património é uma reflexão sobre a fragilidade humana e o sermos confrontados com determinadas situações delicadas que, apesar de sabermos que podem ter lugar, preferimos ignorar. Philip Roth, durante a infância, certamente que tinha em como herói o Homem-Aranha ou o Capitão América, mas no final o pai tornou-se no melhor e no mais poderoso deles todos.
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