Em tempos de recessão económica e de grandes cortes num dos bens essenciais de qualquer país que se denomina como “desenvolvido”, a cultura, a pacata vila de Barroselas, localizada no alto-Minho, e a organização do Steel Warriors Rebellion estão mais uma vez de parabéns, pois ofereceram mais um luxuoso cardápio musical e uma excelente alternativa aos bacocos artistas da música ligeira e aos festivais de música comercial que se realizam no sul do país.
No fim de Abril e início de Maio chuvosos, a décima quarta edição deste festival de rock pesado tinha como maior atracção os lendários Venom, os britânicos que fundaram o género “black metal”, precisamente com o tema e álbum Black Metal. Apesar deste nome de peso, houve também aqui bandas com grande historial e presença no espectro do rock pesado, como Ratos de Porão, Malevolent Creation, Atheist, Voivod e duas grandes surpresas. Analisando primeiramente as bandas citadas, Venom acabou por ser uma grande desilusão, na medida em que o som que se fazia ouvir no recinto principal deixava bastante a desejar, oscilando entre o fraco e o inaudível (muitos se queixaram dos tímpanos) e tudo isto muito por culpa do próprio técnico de som da banda. Para a história fica também um início de concerto marcado pelo carismático tema Black Metal e um repertório algo previsível, ou não estivéssemos perante uma banda que denota grande cansaço em palco e que em 2006 lançou um álbum intitulado Metal Black.
Ratos de Porão estiveram num patamar completamente diferente, como lhes é habitual. Os brasileiros, ícones do crust/crossover, destilaram temas cantados em português e recordaram os clássicos Crucificados pelo Sistema, Agressão/Repressão, Amazônia Nunca Mais, entre outros, onde houve também tempo para uma “cover” de Extreme Noise Terror, Work for Never, em memória do recém-falecido Phil Vane. Actuação feroz e cáustica, dirigida pelo experiente “frontman” João Gordo, que aproveitou para abordar vários temas da actualidade sócio-política. Os Voivod, que no passado contaram com os serviços de Jason Newsted no baixo, protagonizaram umas das experiências mais divertidas e calorosas do festival. Sem sombra de dúvidas que as coreografias e a interacção com o público por parte do vocalista Denis "Snake" Bélanger não deixaram ninguém indiferente e conseguiu mesmo captar a atenção daqueles que não estavam propriamente atentos ao espectáculo. Destaque ainda para a muito sentida interpretação do tema Astronomy Domine, dos Pink Floyd, em honra do falecido Denis "Piggy" D'Amour, um dos fundadores da banda. O death metal com selo de qualidade da Flórida dos Malevolent Creation merece igual destaque. O quinteto norte-americano brindou o público com uma forte descarga de death metal rápido e um profissionalismo em palco assinalável, isto apesar de algumas falhas técnicas (som, entenda-se). Divide and Conquer, Slaughterhouse, Ten Comandments, e United Hate, claro, fizeram as delícias de todos os aficionados da banda. Os Atheist, que a par de Pestilence e Cynic, marcaram uma era no início nos anos 90 pela forma como fundiram técnicas e estruturas tipicamente jazz com o death metal, deram um potente e tecnicista concerto, mostrando que Jupiter, de 2010, foi bem mais que uma mera tentativa de ganhar dinheiro à custa do glorioso passado.
No entanto, as grandes surpresas do festival pertenceram a Menace Ruine e Today Is the Day. Os primeiros, compostos por um duo, apresentaram logo no primeiro dia um som invulgar, misterioso e audaz, bebendo fortes influências do drone e do noise. Infelizmente para a banda e para o espectáculo, o público preferiu ignorar ou não compreender o que se estava a passar em palco, ou simplesmente aproveitou para regressar às barracas da cerveja e dos cachorros. Para a história fica uma interpretação intimista dos temas Collapse, The Upper Hand; Utterly Destitute, Dismantling, Bonded by Wyrd e Primal Waters Bed. Infelizmente, os Today Is the Day pardeceram do mesmo mal: indiferença e falta de público. Liderados pela mente criativa de Steve Austin - responsável por dar a conhecer ao mundo bandas como Lamb of God -, os Today Is the Day apresentam uma sonoridade que, apesar de ter fortes raízes no noise rock, dificilmente pode ser catalogada, tal é a disparidade de géneros e influências que a banda explora. Temple of the Morning Star, Possession, e Free at Last foram alguns dos temas fortes do final de tarde/noite, que face à quebra de uma corda na guitarra de Austin, ficou sem a presença de Willpower.
Há que realçar e mencionar também as actuações de Cough, Alcest, Soilent Green e Magrudergrind, que não obstante o facto de praticarem estilos completamente diferentes, contribuíram muito para que o festival fosse bem agradável. Por último, um forte incentivo a todas as bandas portuguesas que marcaram presença neste festival, com especial destaque para We Are the Damned e Grog. Para o ano há mais.
Cough
Ratos de Porão
Menace Ruine
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