Oito anos de existência, dois álbuns, uma demo, um EP, alguns splits com bandas da cena underground, turnés europeias, palcos partilhados com titãs europeus e americanos (Madball, Terror, Hatebreed, Agnostic Front, No Turning Back, Rise and Fall, etc), sangue, suor e algumas lágrimas marcam a carreira dos For the Glory. Oriundos da grande Lisboa e da Maia, o quinteto é, desde há muitos anos para cá, um dos maiores fenómenos de popularidade e reconhecimento do hardcore punk nacional.
Quatro anos passaram desde o lançamento de Survival of the Fittest – um álbum encarado já como referência nacional – e, desde então, houve extensa promoção ao disco pelas cidades do nosso país e além fronteiras, como mencionado no parágrafo anterior. Costuma-se dizer que o esforço compensa, não obstante os grandes obstáculos que enfrentamos diariamente, e no caso deste grupo isso é uma realidade; já tive a oportunidade de ver muitos concertos e é genuína a raiva e amor que João, Sérgio, Rui, Cláudio e Ricardo entregam em cada concerto, seja a sala grande ou pequena, haja palco enorme ou nem por isso: o gosto pela música que fazem, fiel às raízes do género musical, é sempre transmitido com grande entusiasmo, mesmo quando têm que tocar para vinte pessoas.
Some Kids Have No Face apresenta-nos o retrato de um grupo de jovens mais maduros e dinâmicos que conservaram a humildade anterior e se juntaram mais uma vez para fazer boa música e, dada a oportunidade e disponibilidade, e partir à expansão da considerável legião de fãs. O disco, e em comparação com o anterior, pisa um pouco as linhas do crossover, mostrando-se claramente mais metal em vários momentos (fruto talvez da inclusão de João Reis nas seis cordas), mais corpulento e mais feroz nas vocalizações. As arrancadas ríspidas de All the Same, conjugadas com um bom conjunto de riffs, parecem saídas dum álbum de thrash metal, fazendo recordar os momentos mais brutais dos primeiros trabalhos dos holandeses Born From Pain e do Join the Army, dos Suicidal Tendencies. Todos os temas gozam de boas doses de melodia, “breakdowns” 2-step (aparentemente em menor número em relação a Survival of the Fittest), mudanças de ritmo dinâmicas, bons coros e grandes letras. A mensagem base e o título deste disco são alusivos à actual crise económico-financeira por que estamos a passar, com excepção dos bancos, políticos e Banca; para estas entidades, os cidadãos não passam de números sem rosto (daí o No Face), de meros objectos moldáveis na perversidade de quem os controla.
A grande pedra no sapato encontra-se na produção do disco. De facto, as guitarras apresentam-se demasiado altas, musculadas e estridentes, e isso faz-se notar nos momentos de maior velocidade, abafando demasiado as notas do baixo e a voz. Mesmo nesta é notório que houve um trabalho algo deficiente, na medida em que as vozes soam demasiado forçadas e distorcidas. Este Some Kids Have No Face oferece grandes temas, dos quais destacaria o homónimo, Armor of Steel, All the Same e Behind My Back.
8/10
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