quinta-feira, 7 de julho de 2011

Sepultura «Kairos»


Aquela velha máxima do ou odiamos ou amamos aplica-se com bastante frequência quando pronunciamos a palavra “Sepultura” no meio do metal. Estes Sepultura incluíram sempre e ainda incluem nas suas formações músicos criativos e de bastante talento, mesmo quando um deles usava apenas as quatro cordas da guitarra ou quando o baixista fica nervoso e ansioso e não consegue gravar em estúdio. Na realidade, dá gosto ouvir uma banda que procura sempre diversificar o seu som – nem que seja um pouquinho - e arrisca nas influências e novos caminhos.

As mutações do grupo de Belo Horizonte são mais que muitas e conhecidas: desde aquele death metal sujo dos primórdios, da tripla genial Schizophrenia/Beneath the Remains/Arise, o experimentalismo tribal de Chaos A.D. e Roots, a costela mais hardcore que se seguiu, até às influências da literatura e música clássica dos recentes álbuns, o grupo sempre gostou de inovar (por vezes em demasia, em boa verdade seja dita). Se nos primeiros tempos Derrick Green demorou a entrar no ritmo da banda, o mesmo não se aplica aos últimos registos, muito menos àquela pujança de Dante XXI e ao brilho eclético de A-Lex (poucas serão as bandas capazes de se gabar de terem feito uma adaptação tão brilhante tanto do filme, como do livro). Os Sepultura são hoje um quarteto bastante coeso e criativo.

Kairos é um disco que prima por uma originalidade razoável e pelo apanhado inteligente de alguns dos melhores momentos do passado, sem atingir o “auto-plágio”, passe-se a expressão - já há muito que os brasileiros se podiam ter entregado ao simples “copy-paste” da era em que eram um dos grupos mais populares do metal. Em boa hora nunca o fizeram e optaram pela mistura do antigo com o novo. A estrutura base do disco assenta muito nas variações mid-tempo típicas do groove e as arrancadas vistosas e frenéticas do thrash metal, ainda que haja algumas referências aos riffs death metal de alguns temas de Schizophrenia (Seethe, No One Will Stand).

Spectrum, com o seu tom quasi-maquinal e hipnótico, abre as hostes do disco, com especial destaque para a bateria de Jean Dolabella e a guitarra de Andreas Kisser. Os solos de guitarra estão em grande plano, tal como o “shredding” desenfreado após as várias mudanças de ritmo que Kisser (igual a si mesmo) executa em Relentless, Born Strong e No One Will Stand. Os riffs deste último tema recuperam o saudosismo da dinâmica e ritmo furioso de Arise, perfilando-se como o tema que os fãs mais antigos mais apreciarão, ao passo que o tema homónimo traz consigo um aroma de Refuse/Resist e Territory.

Este décimo segundo longa-duração tem os seus espinhos em determinados momentos que pediam mais velocidade e menos experimentação/mid-tempo, assim como um ou outro tema que podia ter sido excluído do disco - Dialog ou Just One Fix, um original dos Ministry encaixavam melhor na edição deluxe, onde consta também a popular Firestarter dos Prodigy. Não é tão inovador nem superior aos dois últimos - em especial A-Lex, pelo conceito e os moldes em que foi feito -, mas Kairos é um disco forte e bem trabalhado por parte de uma formação que soube lidar com a perda de dois membros emblemáticos.

7.5/10

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