Durante um passeio de bicicleta, um homem é atingido com gravidade por um automóvel e, em consequência dessa acção, esse homem vê uma das suas pernas ser-lhe amputada. Paul Raymond, o homem atrás referido, é um fotógrafo francês de sessenta anos que se mudou para a Austrália, onde vive em Adelaide, e não tem filhos, família ou amigos chegados. É um homem solitário por natureza.
Com uma perna a menos, o Sr. Paul Rayment não pode mais exercer a sua profissão – de que tanto gostava –, de modo que tem que passar os dias no seu apartamento a ser tratado por sucessivas enfermeiras, as quais não lhe agradam. Paul passa o tempo a queixar-se da realidade da sua nova vida, a tentar lidar à tragédia que lhe sucedeu e que tanto o impossibilita de fazer as tarefas do dia-a-dia. Até ao dia em que conhece a enfermeira Marijana Jokić, uma imigrante croata, mãe de três filhos, que devolve a Paul a alegria de viver quando este cria uma fantasia amorosa em relação a Marijana, que é casada.
Este amor platónico que Paul Rayment cria em torno de Marijana, leva-o a tentar aproximar-se não só da própria, mas também dos seus filhos. Drago, o mais velho, é aquele por quem Paul mais se apega, chegando ao ponto de lhe querer pagar todos os seus estudos, fazendo assim Marijana sentir-se um pouco incomodada com a situação – apesar de gostar da ideia -, pois o seu marido não aceita bem o facto de Paul se meter na vida dos outros. A nossa personagem principal sabe que em termos amorosos, não terá muitas hipóteses, mas precisaria de alguém que lhe fizesse ver isso.
Esse alguém é, nada mais, nada menos que uma misteriosa senhora chamada Elizabeth Costello, uma escritora. Há alguma dificuldade em perceber bem onde Costello encaixa na obra e de onde vem; portanto, podemos entendê-la como um jogo metaficcional que o autor faz com o leitor. Costello é uma personagem metediça que irrita profundamente Paul, criando constantemente ambientes de tensão entre os dois; no entanto, é a escritora – em Slow Man é mundialmente famosa – que ajuda Paul a organizar a sua vida, a aceitar quem é e a abdicar da fantasia amorosa. Se já conhece as obras anteriormente publicadas por J. M. Coetzee, reconhecerá Elizabeth Costello (curiosamente, o romance anterior a Slow Man tem o nome de… Elizabeth Costello). Muitos críticos são da opinião de que ela é a extensão do próprio Coetzee para o papel: o Super-Homem de Clark Kent, o Batman de Bruce Wayne.
Slow Man – em português O Homem Lento – foi o primeiro romance a ser publicado por J. M. Coetzee depois de ter ganho, em 2003, o Prémio Nobel da literatura. Este romance explora a solidão de uma forma grotesca e triste, sem excluir totalmente tempo e espaço para a felicidade em tons agradavelmente inesperados, tal como o autor sul-africano/australiano nos tem habituado.
Nota: esta crítica foi baseada na leitura da obra no seu idioma original, o inglês.
Lê-se bem em inglês ? Estou interessado no autor.
ResponderEliminarSim, lê-se. Tem uma escrita "calma" e fácil
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