sexta-feira, 22 de abril de 2011

Douglas Coupland «Generation A»


Foi preciso esperar dezoito anos para ter nas mãos aquele que pode ser interpretado como o sucessor de Generation X, de 1991. Douglas Coupland é um dos autores canadianos mais irreverentes das duas últimas décadas e uma das vozes que mais contesta a globalização e a alienação social provocada pela tecnologia e pelos media, tal como Bret Easton Ellis ou Chuck Palahniuk.

Generation X: Tales for an Accelerated Culture, o primeiro romance da sua carreira, teceu críticas cáusticas e mordazes à geração que vivia apenas o momento e o que a tecnologia oferecia, uma geração que basicamente seguia religiosamente o “hype” consumista que os media facilmente lhes impingiam. No lado oposto a essa geração está a geração X de Coupland, dos anos 60; um grupo de pessoas que gostam de pensar por si mesmas e de se revoltar contra a cultura pop. Estranhamente, o autor decidiu que o termo “geração X” já não tinha razão de existir, poucos anos após a publicação do romance. De qualquer das formas, convém ressalvar que Coupland sempre se distanciou de ser a voz dessa geração.

Este Generation A foca-se essencialmente no actual estado da tecnologia e dos media, nomeadamente nos no impacto que ambos estão a ter na sociedade, especialmente entre os mais jovens – oficialmente, não estamos perante uma sequela, nem temos personagens anteriores aqui presentes. A narrativa apresenta-se fragmentada e é contada a partir do ponto de vista de cinto personagens separadas geograficamente: Harj Vetharanayan, Sri Lanka; Zack Lammle, Iowa, E.U.A; Samantha Tolliver, Nova Zelândia; Diana Beaton, Canadá e Julien Picard, França. O mundo destas cinco personagens é dominado por uma droga chamada Solon que se caracteriza por libertar o stress, relaxamento e desinteresse em relação ao futuro. O outro aspecto importante do livro é as abelhas, que são uma espécie rara, até ao dia em que os cinco indivíduos são picados por abelhas e transportados para uma ilha no Canadá para serem observados e estudados.

Os nossos narradores são idolatrados pela população mundial e estudados pelo grupo dos cientistas pelo facto de terem sido picados pelas abelhas, pois são encarados como factores de esperança num mundo onde determinados itens de alimentação passaram a luxo, devido à falta de abelhas. Cada personagem tem o seu momento de fama, seguido e transmitido em directo pela internet, mas são as estórias que eles contam quando se encontram juntos que metaforicamente criticam a actual dependência das ferramentas online, da padronização IKEA, do Google, da Apple, da Wikipedia e de outras entidades semelhantes. Cada capítulo é narrado, salvo raras excepções, por Harj, Zack, Samantha, Julien e Diana, e cada personagem tem a sua forma cómica de criticar o mundo. Sem embargo, Julien e Zack são as personagens que aparecem inicialmente inseridas no mundo alienado, especialmente Julien que vivia os dias a jogar World of Warcraft.

Generation A tem momentos deliciosos na forma como critica o consumismo e os americanos. Harj, por exemplo, não só é a personagem mais directa e conscienciosa do romance, como também é aquela que mais critica os americanos. Ao contrário de Palahniuk e Easton Ellis, Coupland consegue inserir aqui o referido factor de esperança para o mundo, tornando-o num autor mais positivista, sem que no entanto se coíba de escrever sobre ambientes e temáticas problemáticas e desagradáveis.

Nota: esta crítica foi baseada na leitura da obra no seu idioma original, o inglês.

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