Famosíssimos por terem criado um partido que ainda não tem representação na Assembleia da República, de seu nome CCM, os Mata-Ratos andam no meio da música punk portuguesa desde 1982. A banda liderada pela vocalista Miguel Newton tornou-se, através de muito esforço e luta, numa banda capaz de agradar aos verdadeiros fás do Oi/Hardcore Punk e também ao ouvinte casual de rock. Para isso, muito contribuiu o hilariante single A Minha Sogra É um Boi retirado do álbum Rock Radioactivo, de 1990.
Em 2004, altura em que o nosso país organizou o Europeu de Futebol, a banda lisboeta decidiu editar o seu sétimo álbum de estúdio pela extinta Ataque Sonoro Records. Corrosivo como sempre e centrado em especial no Governo de Durão Barroso e na organização do expoente máximo da cultura portuguesa, o futebol, os Mata-Ratos escreveram aqui canções orelhudas, melódicas e com raiva q.b. - outra coisa não seria de esperar deles.
Todos os temas deste disco provocam ataques histéricos de riso incontrolável, dos quais vou destacar No Meu Sonho Era o Figo, Deus, Pátria e Família, Gangue das Batinas e Putas ao Poder. A temática central de cada um destes temas é, essencial e respectivamente, futebol, fascismo do Ultramar, religião e a corrupção contínua do nosso sistema democrático. Figo, elevado como sempre ao estatuto de herói nacional, deu a cara à candidatura portuguesa ao Europeu de Futebol e graças a ele, os portugueses tinham motivos para entrarem em êxtase. Afinal de contas, seriam dez estádios construídos para celebrar a festa cultural do desporto rei português, sendo que no final, tudo voltava (voltou) ao mesmo: Zé Povinho foi apoiar com fervor a selecção portuguesa e apercebeu-se de que no final a nota não estica para pagar as contas; os fascistas que combateram nas colónias africanas na época do Ultramar rezam para que Deus salve os seus pecados e que lhes dê sempre força para roubar em prol de um Portugal mais forte; o negócio que a Igreja faz com a religião e os padres (os tais das batinas) que comandam o rebanho; por fim, quem está já no poder planta sementes para assegurar a continuidade da actual corrupção do sistema político… por isso, mais vale meter as raparigas da má vida no poder, pois os governos são uns proxenetas.
A linguagem utilizada neste disco é cópia daquilo a que o grupo sempre nos habituou: directa, suja e interventiva. Portanto, quem comprar És um Homem ou És um Rato sabe perfeitamente o que vai encontrar. Com uma grande corrosão política aqui presente, a importância e qualidade deste disco deve agradar tanto ao fá de Ramones, como ao de Garotos Podres.
8.5/10
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