sexta-feira, 1 de abril de 2011

Chuck Palahniuk «Tell-All»


Chuck Palahniuk é um dos autores mais criativos das últimas décadas. Digo isto, porque poucos conseguem atingir o seu nível, acabando pelo calcanhar. Vai ficar na História da literatura do final do séc. XX e do início do séc. XXI até que a morte tenha a infelicidade de o levar. Depois de enterrado, restará um legado rico em contos e estórias fantásticas, chocantes, inovadoras e profundamente humanas, acima de tudo.

Até que Damned saia lá mais para o final deste ano, pode-se entreter com a colheita do ano passado: mais um grande ano para a literatura, de onde sobressaem facilmente Verão de J.M. Coetzee, Sunset Park de Paul Auster, Livro de José Luís Peixoto, A Máquina de Fazer Espanhóis de Valter Hugo Mãe e, pois claro, Tell-All de Chuck Palahniuk. Este último é mais uma agradável forma de desmascarar aqueles que têm tudo e aqueles que nada têm. Os que têm tudo, inventam todo o tipo de esquemas para que os restantes acreditem que eles realmente têm uma vida fantástica e que vivem num conto de fadas; aqueles que nada têm, acabam mesmo por nada ter, a não ser uma mente muito distorcida (em certos casos).

Palahniuk presta aqui uma homenagem ao grande cinema de Hollywood da primeira metade do séc. XX, mencionando massivamente actores, produtores, realizadores e outros famosos da época em “bom” estilo síndrome de Tourette’s: Mickey Rooney, Joan Crawford, Walter Winchell, Lillian Hellman, J.F. Kennedy, Jean Negulesco, Samuel Beckett, Sarah Bernhardt, etc, etc. A narrativa é-nos apresentada em tom “noir”, recriando peças de teatro (cada capítulo é-nos apresentado como “Acto ‘x’, cena ‘x’) e um grande filme que mistura ficção e História. Esta grande produção é descrita por Hazie Coogan, a criada doméstica da grande estrela do cinema Katherine Kenton, uma mulher artificial e extremamente obcecada pela imagem que passa aos outros. Coogan vai-nos contado como consegue preservar a imagem da Sra. Kenton e também como afasta os interessados no amor da sua ama. Pelo meio, há o charmoso Webster Carlton Westward III que conquista o coração de Kenton e Lillian Hellman, escritora de um musical que terá Katherine Kenton como estrela principal.

Após descobrir que Webster Carlton Westward III tem planeado o assassinato e uma autobiografia” best-seller“ da sua patroa, Coogan tentará arranjar formas de manter Katherine Kenton viva e de desmascarar o vigarista. Contudo, e como é apanágio em Chuck Palahniuk, nem tudo é o que realmente parece e dão-se bizarros acontecimentos ao longo da estória. Assim do nada.

Tell-All está longe de ser um livro para entreter e de leitura fácil. É um tributo ao "glamour" do velho Hollywood, escrito numa maneira muito própria para enjoar o leitor ao longo de páginas e mais páginas de cuspidelas de nomes e mais nomes de famosos do passado. O carácter das personagens do livro impede também o leitor de sentir qualquer tipo de simpatia ou empatia por elas. Um romance inesperado de um dos escritores mais extrovertidos da actualidade.

Nota: esta crítica foi baseada na leitura da obra no seu idioma original, o inglês.

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