Ao fim de mais que uma visualização ainda continuo sem saber exactamente sobre o que Malick quis fazer com este filme e ainda me questiono se é um filme ímpar ou apenas mais um filme cheio de pretensiosismo onírico/pseudo-intelectual. Em quarenta anos de cinema, Terrence Malick realizou uma mão cheia de filmes, tendo-se estreado com o raríssimo Lanton Mills, de 1969, ao que se seguiram duas obras na década de 70 que são encaradas como fulcrais no cinema norte-americano, Noivos Sangrentos e Dias do Paraíso, e uma ausência de vinte anos, regressando em 1998 com A Barreira Invisível e 2005 através de O Novo Mundo.
Em todos os filmes deste realizador, fica a ideia de que cabe a cada espectador tirar as suas próprias conclusões sobre o real valor da película e do seu significado; poderia talvez afirmar que David Cronenberg e David Lynch têm a mesma escola surrealista de cinema. Ou talvez não: a partir do momento em que o próprio Lynch não consegue explicar exactamente o que acontece em Mulholland Drive, acredito que tudo é possível, por assim dizer. Esta árvore da vida começa no tempo que o próprio universo começa a ganhar forma, na época jurássica, no Texas dos anos 50, na contemporaneidade… e num futuro qualquer de sonho e fantasia onde todos quebram as barreiras temporais e físicas e convivem com enorme alegria e muita paz. Brad Pitt, e Jessica Chastain interpretam o papel do casal O’Brien que tem um filho muito especial: Jack. Jack, interpretado por Hunter McCracken e Sean Penn simultaneamente, é um menino que enfrenta o pai severo que ao mesmo tempo o ama, ainda que a relação dos dois seja conflituosa e desesperante em vários momentos: sempre que a narrativa decorre com o pequeno Jack, há sempre um ambiente presente de iminente violência e excesso de autoritarismo, ainda que o pai o faça para bem do rapaz. Por vezes, a realização avança no tempo para os nossos dias e vemos um Jack adulto (Sean Penn) a lutar com problemas do passado que nunca se resolveram. O miúdo Jack pede muito a Deus que este acabe com a vida do pai.
A religiosidade/cristianismo presente em A Árvore da Vida está presente ao longo do filme e “Deus” é proferido com bastante frequência. Na minha opinião, este factor cristão torna o filme demasiado espiritual e pretensioso, como se a história da humanidade estivesse dependente de um deus dito presente e sempre ausente; o deus de Malick existe já na era dos dinossauros. Este deus faz com que um dinossauro não mate outro que se encontra no chão, sem forças, à mercê de ser devorado. Mas não o é. O futuro onde o Homem comunga em paz é um futuro puramente onírico, bíblico e positivista, onde confluem o pequeno Jack, o Jack adulto e o pai O’Brien de mãos dadas. O destaque da obra vai inteiramente para a fotografia e o som; é simplesmente brilhante a forma como as cascatas, rios, florestas, vulcões, mar e toda a Mãe Natureza é filmada em grande esplendor. Há uma constante exultação à serenidade, sempre que os seres e paisagens onde estamos inseridos aparecem no grande ecrã. Por outro lado, os close-ups das personagens são de realçar, ainda que se repitam em demasia, forçando o espectador a se “desligar” do filme. Perdão, não são apenas estes planos próximos de câmara que distraem o espectador, a ausência de um fio condutor lógico na narrativa e os sucessivos recuos/avanços e avanços/recuos contribuem de sobremaneira para que se concentre na imagem/som e ignore os diálogos, mesmo quando estes não estão a louvar Deus.
A Árvore da Vida é um filme audaz e uma grande produção cinematográfica com boas prestações dos actores a nível geral, ofuscada em demasia pelo simbolismo que Malick introduz. Talvez à décima contemplação eu consiga compreender inteiramente todas as mensagens da obra… até lá, fico-me pelo híbrido pretensiosismo/boa qualidade.
Título original: The Tree of Life
Argumento: Terrence Malick
Realização: Terrence Malick
Penso que só o realizador percebeu todas as cenas e mensagens!!
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:)