terça-feira, 22 de novembro de 2011

Roberto Bolaño «O Terceiro Reich»


Ler este autor implica ter a seu lado uma boa chávena de café quente, sentar-se de preferência numa esplanada ao sol e algo para matar a sede. Apontado por muitos como um dos grandes génios das últimas décadas da literatura latino-americana e autor dos best sellers 2666 e Os Detectives Selvagens, Roberto Bolaño não me tinha impressionado neste último Verão, altura em que li e opinei sobre Os Dissabores do Verdadeiro Polícia (obra póstuma, tal como esta), sem no entanto conseguir escapar ao elogio da sua escrita.

Posto isto, a obra é-nos apresentada em forma de diário de Udo Berger, um alemão de Estugarda que é viciado e campeão de jogos de estratégia conhecidos por “wargames” viaja até à Costa Brava na Catalunha e fica instalado no hotel Del Mar, na companhia da sua namorada Ingeborg. O hotel Del Mar é o local onde Udo passava férias com regularidade na companhia da sua família, gerido pela bela Frau Else e o seu marido que o protagonista tinha conhecido há já dez anos e dos quais ainda se lembra perfeitamente, muito em particular de Frau Else. A Catalunha é especialmente quente e descontraída na época balnear e muitos são os turistas alemães que decidem passar lá as suas férias e apanhar um tom de pele mais escuro, como é o caso de Hanna e Charlie, casal que Udo e Ingeborg conhecem na praia e nas saídas nocturas. Junta-se o Lobo e o inseparável Cordeiro, dois espanhóis locais e uma personagem intrigante, o Queimado, alcunha resultante das enormes queimaduras e cicatrizes que a personagem possui, e temos as personagens principais de O Terceiro Reich.

Udo não vive sem o seu jogo de tabuleiro bélico, nem mesmo nesta altura em que devia estar deitado na praia e a dar mergulhos no mar; não, em vez disso, o alemão passa o tempo enfiado no seu quarto a delinear novas estratégias para simular a vitória nazi na Segunda Guerra Mundial contra um oponente de peso e que lhe causa algum mal-estar: o Queimado, jogador dos Aliados. A obra gira parcialmente em torno destes jogos de estratégia e no reviver da História - matéria na qual Bolaño apresenta um conhecimento de causa assinalável -, adicionando simultaneamente uma intriga policial à narrativa quando Charlie morre misteriosamente numa das suas habituais incursões de windsurf no mar. Outro factor que confere à obra um certo nervoso miudinho e prenúncio de que algo de mau vai acontecer, ocorre nos jogos contra o Queimado, do qual pouco ou nada se sabe, mas há sempre indícios de que há mistérios por resolver e de situações adversas.

O Terceiro Reich está interligado com A Literatura Nazi nas Américas e Estrela Distante (romances que já se encontram no mercado português), recupera personagens de outros romances, chama por grandes nomes da literatura mundial e tem como ponto forte a forma descontraída, mordaz e realista que Bolaño utiliza para narrar os acontecimentos, adensada pelo já referido mistério e características das obras de carácter policial. A estadia de Udo Berger e a relação que este estabelece com Frau Else, o Queimado os outros habitantes e locais que rodeiam o hotel proporcionam agradáveis horas de leitura ao ritmo sul-americano.

2 comentários:

  1. Ola Simão.

    Infelizmente não li o 2666, nem nenhum outro do autor. Já peguei em vários, mas a espessura dos mesmos assombrou-me..
    Não me assusta as páginas, mas sim se é uma desilusão, visto não conhecer a escrita do autor.
    Mas por vezes ganho coragem e aventuro-me em livros "grandes" de escritores desconhecidos(por mim).

    Boas leituras

    Abraço

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  2. Olá, Miguel

    Tenho o 2666 aqui em casa há quase ano e meio e um dia destes pego nele, porque gostei muito deste livro e porque o Bolaño escreve muito bem. Este não é muito extenso, tem 350 páginas e parágrafos muito curto. Creio que podias começar por este :)

    Grande abraço

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