terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Bracara Extreme Fest 2011


A quinta edição do Bracara Extreme Fest decorreu pela primeira vez no C.C. Braga Viva, nas antigas salas de cinema na parte superior do Braga Shopping, em pleno coração da cidade. Dividido em dois dias (sexta e sábado), o festival teve como principais destaques os Napalm Death, uma das bandas pioneiras do grindcore, os Decapitated que estavam de regresso a Portugal depois da morte do baterista Witold Kiełtyka, os belgas Aborted e os noruegueses Enslaved.

O evento decorreu em patamares distintos em termos de afluência do público, tal era o enquadramento do cartaz com um segundo dia mais interessante que o primeiro. Sexta-feira teve ainda o agravamento da desistência à última da hora por parte dos irlandeses Altar of Plagues, uma das bandas que tinha levado muitos dos presentes a adquirir o ingresso. De qualquer das formas, o festival arrancou com a curta descarga da fusão death metal moderno e grindcore dos desconhecidos Trocombix, grupo oriundo de Valência que acalorou e arrancou os primeiros aplausos tímidos da plateia, contrastando a actuação aborrecida dos, também espanhóis, Aathma. Os primeiros aplausos dignos de registo foram atribuídos aos suíços Zatokrev, pela forma psicadélica e arrastada que presentearam os presentes, destacando-se o tema ...Zato Krev

As duas bandas portuguesas da noite tiveram prestações também elas diferentes: por um lado, os Deskarga Etilika apresentaram-se, após muito tempo afastados dos palcos, com uma formação que conta agora apenas com um vocalista que, por mais que se tenha esforçado, denotou que o conjunto funcionava bem melhor com dois na voz, facto evidente nos temas de Apunkalipse Now, Xulos do Estado e Unidos pela Autogestão; os Holocausto Canibal, maior representante do panorama nacional do goregrind/death deram um concerto igual a si mesmos: fúria, humor negro e bastante movimento no palco que resultou no bailarico habitual dos que estavam colados ao palco. Aplaudiu-se não só as habituais Violada pela Motosserra, Empalamento, Amizade Fálica, mas também novos temas do terceiro álbum de originais que sairá em breve. O metal dos Daylight Dies pode não ter convencido o público que já esticava as pernas para a actuação dos Napalm Death, mas teve o efeito contrário naqueles que se deixaram seguir pela melancolia e mágoa que a banda empregou, com um registo vocal assinalável. A celebrarem quase trinta anos de existência, os veteranos de Birmingham estiveram à altura das expectativas, ainda que problemas técnicos ao nível da bateria tenham contribuído para uma menor entrega da própria banda e público. Construíram uma ponte entre 1987 e a actualidade, de Scum a Time Waits for No Slave e apresentaram ainda Quarantine, tema de Utilitarian a sair em Fevereiro. Destaques para Suffer the Children, Nazi Punks Fuck Off, Scum e Silence is Deafning.

O dia de sábado fica marcado pelas estrondosas actuações de Skepticism, Fleshgod Apocalypse, e Aborted, Enslaved e Decapitated, com destaques positivos para Process of Guilt (única banda nacional do dia) e Archspire e nota negativa para a actuação soluçada e demasiado tímida – por mais intimista que o seu som possa ser – dos chilenos Mar de Grises. Fleshgod Apocalypse, oriundos de Itália, brindaram o público com música clássica e death metal extremo e sinfónico, criando um ambiente de fantasia que ecoou pela sala alto e com bom som, interrompido pela depressão das letras do doom dos finlandeses Skepticism, que imprimiram um forte aparato visual e fúnebre ao largo de minutos que pareceram horas sem fim - “intensa” define bem a prestação.

De regresso ao nosso país estavam também os Aborted com (mais uma) formação renovada, da qual já só resta o frontman Sven de Caluwé. Meticulous Invagination, Dead Wreckoning, Sanguine Verses (...of Extirpation), The Saw and the Carnage Done, entre outros temas, confirmaram duas coisas: uma, que são verdadeiros profissionais em palco e que criativamente ainda vivem em demasia do passado. Quem vai trabalhando no presente e na linha da inovação são os Enslaved, que mesclam o prog/psicadélico com o black metal baseado na cultura viking e transformaram-nos numa descontraída e bastante competente actuação (houve tempo para uma reinterpretação de Immigrant Song dos Led Zeppelin), ainda que manchada pela dificuldade que as vozes limpas tiveram em se fazer ouvir em Ruun ou Giants. Allfadr Odinn, última faixa do setlist, foi dedicada aos amigos Decapitated.

Ultrapassada a tragédia que em 2007 tirou a vida ao irmão de Vogg e a capacidade para cantar de Kovan, o quarteto brindou os presentes com a melhor actuação do festival. Ainda a promoverem Carnival Is Forever e reinventando cada vez mais o death metal, The Knife deu início ao festim de shred e brutalidade (sonora). Ainda a recompor-se da chapada da primeira faixa, o público respondeu afirmativamente à nova formação e aos hinos da banda: Day 69, Winds of Creation, Mother War e Post (?) Organic. Os solos e os compassos da guitarra de Vogg e o trabalho de pés de Krimh ajudam a explicar o porquê de a banda obter tanto reconhecimento entre os aficionados deste género musical. Spheres of Madness, aquela que a meu ver foi o tema que mais impacto causou em todo o festival, encerrou uma actuação que incluiu quatro temas do novo álbum, mais os já referidos clássicos. 

Muito resumidamente, foi um fim-de-semana muito positivo. Há que destacar, uma vez mais, Ricardo e Tiago Veiga e toda uma equipa que organizou e ofereceu um grande final de 2011 com bastante peso e diversidade musical. Entretanto, e para os mais desatentos, divulgaram já muitas bandas que marcarão presença no maior festival do Minho, o SWR Barroselas Metalfest. 

Fotos gentilmente cedidas por Gonçalo Delgado:

Decapitated 

Napalm Death

 Aborted

 Enslaved

 Deskarga Etilika

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