O sul de Espanha alberga inúmeros ingleses que vivem em condomínios privados fechados aos próprios espanhóis. Nestas regiões forma-se uma Inglaterra de reformados e milionários que vivem um estilo de vida demasiado relaxado e repetitivo, isolando-se do mundo nas suas casas luxuosas e nas suas televisões por cabo. Estrella de Mar é um condomínio onde crime, violação, álcool, ténis, pornografia, drogas fazem parte do entretenimento, da quota mínima necessária para o bom funcionamento dum paraíso quasi-psicótico.
Charles Prentice é o principal protagonista dum dos últimos romances do britânico J. G. Ballard, escritor famoso pelas obras Crash e Império do Sol e a profunda reflexão sobre a actual sociedade e criação de uma futurista transgressiva, profundamente utópica e violenta, onde o Homem se torna vítima da sua própria monstruosidade egoísta. O “resort” Estrella de Mar é mais um destes mundos alternativos onde o ritmo criminoso é usado para impor um certo sentido de sociedade organizada e perfeita, onde as infracções à lei são condição sine quai non para o dia-a-dia. Frank Prentice é encarcerado e acusado pela morte da família Hollinger, uma das mais poderosas e ricas da região e, embora todos acreditem na sua inocência, Frank prefere declarar-se culpado para o bom funcionamento da Estrella de Mar e dos outros condomínios que o rodeiam. Charles, arrastado até Espanha para compreender o porquê da estranha decisão do irmão acaba por conhecer Bobby Crawford, o principal responsável pela loucura e agitação do “resort”. As tais infracções referidas que têm de acontecer para que tudo funcione paradisiacamente.
Antes de Bobby aparecer em cena, os habitantes de Estrella de Mar viviam dependentes de anti-depressivos, psiquiatras e privados de excitação, prisioneiros do aborrecimento e da televisão. Agora, compreendem todos que os crimes que Crawford comete são o seu messias, o único que lhes pode devolver uma vida e um mundo agitado, um mundo o qual só resulta da transgressão e perversão dos parâmetros estabelecidos como padrões do bom funcionamento social. Charles começa também ele a entrar nesta hipnose que o suga para o oposto daquilo que ele defende e, tal como o seu irmão Frank, ele apercebe-se pouco a pouco da utilidade do contrabando de drogas e de alguns incidentes trágicos – entende que todos têm que se sacrificar pelo bem-estar da comunidade. Ballard serve-se deste romance para pôr em questão a utilidade da auto-gestão social e de um mundo onde o colapso de uns é a prosperidade de muitos.
O conceito é interessante, assim como certas personagens que, bem caracterizadas, entram bem na narrativa. No entanto, o romance revela-se demasiado extenso e pouco dinâmico na maior parte das suas páginas, tornando-se repetitivo e aborrecido ao fim de poucas horas. Ballard, como que também ele arrastado para o mundo de Estrella de Mar, afasta-se em demasia do leitor.
Nota: esta crítica foi baseada na leitura da obra no seu idioma original, o inglês.
Bah é o segundo livro que me interesso. Tô com uma caralhada de livro pra ler, mas assim que terminar me interessei muito por esse.
ResponderEliminarSexo, violência, pornografia, loucura, tudo isso me interessa na literatura. Serve para refletir a sociedade pós-contemporânea em que vivemos.
Abss!
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Site Oficial: JimCarbonera.com
Rascunhos: PalavraVadia.blogspot.com
Este não é, de facto, o melhor romance de Ballard... longe disso. Mas sim, é uma óptima reflexão sobre a sociedade actual e futura :)
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