sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Bret Easton Ellis «Imperial Bedrooms»


Vinte e cinco anos após o lançamento do clássico da literatura transgressiva norte-americana Less Than Zero, Bret Easton Ellis elabora uma sequela menos bem conseguida em termos de impacto e criatividade, não obstante a marca característica niilista, crua e directa que marca este romance daquele que já nos ofereceu As Regras da Atracção, American Psycho e Lunar Park.

Clay está de volta a Los Angeles depois de viver em Nova Iorque ganhando a vida como argumentista de séries e filmes, reencontrando os seus velhos amigos Julian, Rip, Daniel, Trent e Blair (estes dois últimos agora casados) ligados também à indústria cinematográfica, e Rain Turner, uma jovem misteriosa e ambiciosa que faz de tudo para entrar num filme que Clay está a gravar. Todos continuam muito bem de finanças e todos vivem em apartamentos e condomínios fechados luxuosos, fruto dos lucros do cinema e da sujidade e maldade que a envolve. Em termos de maturidade, continuam como se o tempo não tivesse passado por eles: exceptuando algumas mudanças físicas perfeitamente naturais, o comportamento de todos continua a ser irresponsável, traiçoeiro, festivo e converge sempre nas drogas. Apesar de serem amigos, a relação entre todos é tudo menos normal. Há sempre alguém que pode ser pisado e todo o cuidado é pouco.

Desde o primeiro dia em Los Angeles que Clay se vê perseguido e filmado por um estranho carro e por sms de números bloqueados que o vão ameaçando. Os alertas aumentam a partir do momento em que Clay, personagem principal, se envolve com uma actriz desconhecida, Rain Turner, numa relação amorosa perigosa, desconhecendo o guionista de que Rain é namorada de Julian e uma prostitua do perigoso narcotraficante/proxeneta Rip Millar. Mesmo após descobrir isto tudo, há uma vontade enorme de prosseguir um namoro impossível. Os riscos desta relação materializam-se pouco a pouco, à medida que certos amigos de longa data começam a aparecer mortos vítimas de tortura bárbara. Imperial Bedrooms (título de um tema de Elvis Costello de 1982) revela um lado que já tinha sido explorado anteriormente em Clay, que é a forma como este se posiciona sempre em primeiro e acima de todos, só que desta vez o seu narcisismo pode causar a morte dos que o rodeiam a si e a Turner. Por outro lado, há ainda algo que o une a Blair e o grande amor que outrora ambos nutriram; uma das falhas do romance reside no papel quase secundário que esta tem, participando muito pouco nos diálogos e nas narrações de Clay.

Vinte e cinco anos depois, o ódio de Bret Easton Ellis já não está tão focado na MTV, mas sim na actual tecnologia que sufoca o ser humano: iPhone, internet, exposição da vida privada das pessoas no You Tube e redes sociais. A obra está escrita num estilo noir e modernista capaz de captar a atenção dos novos leitores, no entanto e apesar disto, os que mais vão desfrutar dela serão com toda a certeza aqueles que esperaram mais de duas décadas por algo que não tem o mesmo impacto que o seu “debut”.

Nota: esta crítica foi baseada na leitura da obra no seu idioma original, o inglês.

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