Chuck Palahniuk há muito que ficou conhecido por ser um autor difícil de criticar por parte dos críticos. Ou porque não gostam dele, ou porque não percebem os livros, a verdade é que o autor vai criando uns grupos de críticos que o odeiam profundamente. Ser norte-americano e criticar os valores capitalistas, consumistas, anti-laicistas e a democracia obsoleta pela qual aquele país se rege, não é tarefa fácil. O culto anti-Palahniuk vai ganhando adeptos que começaram a juntar-se na altura em que o autor editou Clube de Combate, alvo de censura e ferozes críticas conservadores e religiosas.
É com felicidade que também se pode constatar que o grupo de seguidores de Palahniuk é enorme, muito enorme. Desde que David Fincher decidiu adaptar o primeiro romance de Palahniuk ao cinema, o culto aumentou exponencialmente – não é à toa que o site do autor é conhecido como “the cult”. Pygmy, de todo o vasto catálogo de Palahniuk, será talvez aquele de maior dificuldade em termos de sua leitura e aquele pelo qual não se deve começar a ler primeiro. Passo a explicar: a linguagem utilizada neste livro aparenta ser infantil – é-o, em determinados momentos –, e mal construída gramaticalmente e com um número muito grande de palavras estranhas e mal empregues. Exemplo: “Para registo oficial, família americana inventar plenitude de rótulos absurdos para cristianizar filha primogénita”. Deve ser lido da seguinte forma: “Na realidade, as famílias americanas inventam muitos nomes de baptismo absurdos para as suas filhas”. Este exemplo não traduzido está presente em todos os momentos da obra.
O nosso narrador é o Agente 67, apelidado de “Pigmy” (em português “pigmeu”) devido à sua baixíssima estatura. "Pygmy" é uma criança de 13 anos oriunda de um país totalmente desconhecido e de carácter totalitário, aparentemente comunista – durante o livro há citações e referências, a Mao Tse-Tung, Pinochet, Kim Jong-Il, a… Hitler e outros ditadores - que faz parte de uma organização terrorista chamada The Havoc – similar ao Projecto Destruição de Clube de Combate. Cada agente é inserido numa família norte-americana, apresentando-se como aluno de programas de intercâmbio estudantil, com o objectivo de tomar controlo do país, destruindo o sistema capitalista. Os agentes masculinos devem também engravidar as mulheres norte-americanas e as agentes femininas devem ficar grávidas de norte-americanos.
O nosso agente 67, de aspecto franzino, é na realidade um especialista em artes-marciais e mortal na hora de assassinar – para tal foi treinado. Ele é dotado de golpes que incluem o “Pontapé da Morte Voador Gigante da Cegonha” e a “Manobra de Morte Rápida da Cobra Atacante” e em determinadas cenas utiliza estes e outros golpes saídos de um velho filme chinês revisitado por Tarantino. “Pygmy” vive com a família Cedar, que aparenta ser perfeitamente normal, constituída por Pai Vaca, Mãe Galinha, Irmã Gata e Cão Porco Irmão (pai, mãe e filhos). Como se de um episódio de South Park se tratasse, Pygmy é uma hilariante e envolvente sátira ao chauvinismo, à homofobia, à religião e ao consumismo capitalista dos Estados Unidos da América. Ao ler Pygmy e ver South Park, é impossível não nos lembrarmos de Team America ou dos Simpsons. Ao longo de todos os capítulos, há um relatório que “Pygmy” escreve para enviar para o seu país de origem _____ na cidade de _______ na noite de __________.
Escriba operativo eu insere recomendação alta nesta nota despachante baseado em sujeito masculino do país estrelas pálidas no mar e riscas comunistas. Observação nos cadernos Choke – Asfixia, Monstros Invisíveis e Snuff de importâncias grandes ao mesmo tempo também.
Nota: esta crítica foi baseada na leitura da obra no seu idioma original, o inglês.
Sem comentários:
Enviar um comentário