Durante quatro anos, o realizador
de cinema Miguel Gonçalves Mendes conviveu com José Saramago e Pilar del Río na
residência de ambos em Lanzarote, Espanha. Em 2010 estreou em Portugal o filme
documentário José e Pilar, no final
do ano passado a Quetzal publicou estas conversas que funcionam como um
complemento à película.
Centenas de horas de conversas com
um dos casais mais simpáticos e populares da literatura, dispostas por cerca de
duzentas páginas e que incidem sobre os tópicos das letras, da obra de Saramago
e das suas viagens à volta do mundo, das posições firmes na área da política e também
da vida pessoal do casal. Os mais familiarizados com a obra do Nobel 1998 não
estranharão certamente a maioria das suas intervenções, pois neste livro o
autor de Memorial do Convento inclina-se
sempre para a direcção que o seu vento soprou. Saramago aproveita também para
esclarecer a questão do despedimento de jornalistas no Diário de Notícias.
Curiosamente, as entrevistas com
Pilar são o ponto mais atractivo desta obra. Sempre em castelhano – e aqui a
Quetzal arriscou um pouco nesta aposta – e sem tradução, a espanhola natural de
Granada impõe-se de forma clara e extremamente frontal, aproveitando mais que
uma vez para explicar que o descanso é importante e que será eterno após a
morte, daí que há que viver o momento como se não houvesse amanhã. O processo
de tradução dos livros de Saramago para a língua espanhola é aqui explicado, e
Pilar assegura que não interfere de forma alguma com o decorrer da escrita e
das ideias do marido.
O ponto mais frágil destas
duzentas páginas reside no próprio Miguel Gonçalves Mendes, que mostra algum
receio nas questões que coloca; de facto, creio que o entrevistador poderia por
vezes impor um pouco mais as suas ideias e tomar a rédea da entrevista; fica a
sensação de que por vezes os entrevistados passam a conduzir o ritmo da
conversa, encurtando o espaço e tempo das questões do locutor.
José e Pilar – Conversas Inéditas apresenta o lado de Pilar del Río
que era relativamente desconhecido do grande público, confirmando que a mesmo
foi mesmo muito mais que a mera “esposa de Saramago”.
Gostei muito do filme, mas não irei ler o livro.
ResponderEliminarSaramago já morreu há dois anos, tenho saudades dos seus comentários no blog, muitas vezes foi através da sua escrita que me apercebi das maiores atrocidades que o ser humana é capaz de fazer.
Tenho o filme cá em casa e ainda nem o vi com atenção. Ele, o filme, é assim tão bom?
ResponderEliminarVi o filme/ documentário e é sublime. Vale mesmo vê-lo. Um grande homem.
ResponderEliminarHá uma semana atrás fui a uma conferência em que esteve a filha dele - Violante - e foi muito agradável ouvir histórias dele contadas pela filha.