Descrever o primeiro contacto com
Ágætis Byrjun é como recordar os
melhores momentos da minha infância, entre outras coisas divertidas. O montão
de gelados que comi quando estive internado no hospital e as subsequentes
prendinhas, o primeiro mergulho no mar e os dois litros de água engolidos, a
primeira vez que nadei sem ir ao fundo, aquela vez em que, a primeira vez que
aprendi a tabuada, aquela vez em que nevou cá e a professora não me deixou ir
brincar na neve, o primeiro gato, a primeira consola de vídeo jogos – obrigado por
tudo, Super Mario.
Incorrer na beleza e magia do segundo disco destes islandeses obrigar-me-ia a ficar aqui a escrever um testamento, sem qualquer exagero. Svefn-g-englar, Sæglópur, Glósóli, Festival e Ný Batterí são alguns dos imponentes e delicados temas dos Sigur Rós, mas nenhum deles, creio eu, suplanta o sonho/viagem de Olsen Olsen. Apesar de os gostos serem sempre uma questão relativa, Olsen Olsen tem a melodia, melancolia, crescendo, emoção, tristeza, alegria e positivismo que qualquer grande tema épico deve ter, um mergulho no nosso ser. Takk e Sigur Rós (ou ()) revelaram uma sonoridade ligeiramente diferente, ainda que com várias semelhanças ao segundo disco e já quase nenhuma com o primeiro, que viria metamorfosear-se naquele que assinalou um modo de compor mais pop/rock e uma maior exposição na comunicação social, Með suð í eyrum við spilum endalaust, um disco que deixou os fãs um pouco de pés atrás.
Valtari significa “rolo compressor”, mas está longe de ser uma
máquina de construção capaz de arrasar com tudo; não, Valtari é um disco que transborda de introspecção, luz e energia em
excesso, quebrando muito com os elementos que faziam da banda um grupo multifacetado
e sui generis em todos os aspectos.
Falta aqui a melancolia e a escuridão, essencialmente, mas a ausência da percussão
chega a ser asfixiante em vários períodos da obra, e um bom exemplo disso é o
tema Dauðalogn, talvez o mais
introspectivo dos 55 minutos da rodela. A introspecção faz-se sentir em quase
todo o disco, e há mais que um tema sem vozes, no entanto naqueles que são
cantados e apresentam demasiada melodia, e onde também só aqueles que falam
islandês compreendem as palavras de Jón Þór Birgissonsor, é claro que uma
bateria e um baixo pomposos encaixavam que nem uma luva; de facto, seria
injusto menosprezar o esforço que a banda teve ao escolher compor desta forma,
já para não falar na ousadia de se cantar num idioma que poucos ou nenhuns
reconhecem fora da Islândia, mas a percussão é um dos elementos de marca do
grupo.
Os falsettos nas vozes e os órgãos também teimam em abundar por estes lados, enfraquecendo uma experiência que se queria mais enriquecedora. Talvez estejam a ser vítimas da sua própria fama e criatividade, mas a verdade é que os Sigur Rós de Valtari são diferentes dos de Ágætis Byrjun. E não para melhor.
6/10
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