sexta-feira, 11 de maio de 2012

João Moura «Nos Destroços de Um Naufrágio»


«Quem nunca viu um barco afundar-se no meio dos vendavais, da intermitência dos relâmpagos e da mais profunda escuridão, enquanto os que o povoam são vencidos pelo desespero que se imagina, esse não conhece os acidentes da vida.», Isidore Ducasse.

O jovem poeta João Moura, oriundo da cidade de Vila Nova de Famalicão, apresenta-nos uma viagem em barcos por vastos mares de poemas neste seu “debut” com o selo da editora Papiro. Esta colectânea poética aproveitada a partir do blogue que o autor mantém, Derivas de um Barco Ébrio, é banhada pela ideia da água que fertiliza o nosso mundo, de que no fundo todos somos náufragos de um barco – a vida – mas que temos a tendência de nos agarramos em demasia aos destroços que são inevitáveis e que fazem parte da nossa vivência, esquecendo-nos de viver e ver que há mais vida e outros portos onde atracar, que as feridas saram mais rápido se voltarmos a navegar, tal qual as palavras de Ducasse que João Moura cita ao início. Desde que saímos do ventre da mãe, a chamada zona de conforto na qual a psicologia tantas se debruça, que as pessoas se sentem destroçadas e fazem tudo por alcançar essa segurança.

Altamente influenciado por autores lusófonos e francófonos, tais como Fernando Pessoa, Al Berto, Herberto Helder, Arthur Rimbaud, Henri Michaux, Allen Ginsberg, Jack Kerouac, Chuck Palahniuk, estes destroços bebem muito do cinema, da música e da pintura, artes directamente homenageadas no poema Lua II; a música chega por vezes a ter um papel mais predominante neste registo e a escrita também ela ostenta uma musicalidade interessante. A espaços, surgem alguns textos em prosa – poucos – que deambulam pela actualidade do contexto social e abordam a temática do desemprego e o seu desespero inerente, sentindo-se aqui um pouco da frustração e o negativismo que marca em doses reduzidas um enorme desejo de viver e uma vontade de amar marcados por um tom coloquial, ainda que introspectivo.

Longe de ser uma obra complexa, a poesia de Nos Destroços de um Naufrágio é uma excelente proposta, franca e positiva, um mar de vida.

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