«Quem nunca viu um barco afundar-se no meio dos vendavais, da
intermitência dos relâmpagos e da mais profunda escuridão, enquanto os que o
povoam são vencidos pelo desespero que se imagina, esse não conhece os
acidentes da vida.», Isidore Ducasse.
O jovem poeta João Moura, oriundo
da cidade de Vila Nova de Famalicão, apresenta-nos uma viagem em barcos por
vastos mares de poemas neste seu “debut” com o selo da editora Papiro. Esta
colectânea poética aproveitada a partir do blogue que o autor mantém, Derivas de um Barco Ébrio, é banhada pela ideia da água que fertiliza o nosso mundo, de
que no fundo todos somos náufragos de um barco – a vida – mas que temos a
tendência de nos agarramos em demasia aos destroços que são inevitáveis e que
fazem parte da nossa vivência, esquecendo-nos de viver e ver que há mais vida e
outros portos onde atracar, que as feridas saram mais rápido se voltarmos a
navegar, tal qual as palavras de Ducasse que João Moura cita ao início. Desde
que saímos do ventre da mãe, a chamada zona de conforto na qual a psicologia tantas
se debruça, que as pessoas se sentem destroçadas e fazem tudo por alcançar essa
segurança.
Altamente influenciado por autores
lusófonos e francófonos, tais como Fernando Pessoa, Al Berto, Herberto Helder,
Arthur Rimbaud, Henri Michaux, Allen Ginsberg, Jack Kerouac, Chuck Palahniuk, estes
destroços bebem muito do cinema, da música e da pintura, artes directamente
homenageadas no poema Lua II; a
música chega por vezes a ter um papel mais predominante neste registo e a
escrita também ela ostenta uma musicalidade interessante. A espaços, surgem
alguns textos em prosa – poucos – que deambulam pela actualidade do contexto
social e abordam a temática do desemprego e o seu desespero inerente,
sentindo-se aqui um pouco da frustração e o negativismo que marca em doses reduzidas
um enorme desejo de viver e uma vontade de amar marcados por um tom coloquial,
ainda que introspectivo.
Longe de ser uma obra complexa, a
poesia de Nos Destroços de um Naufrágio
é uma excelente proposta, franca e positiva, um mar de vida.
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