Não é um romance, nem um livro de
contos, muito menos um livro de poesia ou uma colectânea de contos. É um pouco
disto tudo e muito mais: é um conjunto de lições de vida.
Nascido em Bruxelas, em 1914, mas
com nacionalidade argentina – e posteriormente também francesa -, Júlio
Cortázar é um dos autores de língua espanhola mais reconhecidos a nível mundial
e um dos expoentes da literatura latino-americana, de onde se ressalva sempre Rayuela e esta volta ao dia. Dedicou
grande parte da sua vida à literatura e filosofia, de onde manteve sempre uma
posição crítica perante aquilo que os media elogiavam, optando o autor por
quebrar com o “establishment” literário, por via da sua narrativa moderna e
invulgar. Ficou sobejamente famoso pelos seus contos e pela criação de
cronópios, famas e esperanças, nomenclaturas que se referem essencialmente ao
nosso modo de estar perante a sociedade: cronópios são os relaxados, famas
aqueles são demasiado prudentes e tensos e as esperanças, bem essas são pessoas
dependentes de outrem que vivem do medo.
A Volta ao Dia em Oitenta Mundos é uma divertida obra que se
debruça por várias temáticas, de entre as quais a literatura, a política, a
França, a Argentina, a pintura, a poesia e a música; neste trocadilho de
palavras influenciado por Júlio Verne e o seu famoso livro A Volta ao Mundo em Oitenta Dias, Cortázar salpica uma narrativa
marcada pelo humor – por vezes – corrosivo e também pela consciencialização
perante as temáticas sobre as quais ele escreve, divagando quase sempre pela
exultação do espírito cronópio e pela crítica aos famas (as esperanças não
aparecem assim tanto) ao som dos grandes nomes do jazz norte-americano, movendo
a caneta com a força dos punhos com que Sugar Ray Allen venceu os campeonatos
de boxe e, claro, com aquela inspiração tipicamente argentina de Jorge Luís
Borges.
Extremamente bem escrito e quase
sempre auto-biográfico, este livro romance/ensaio/crónicas/poesia/etc é uma
forma diferente de ver o mundo através dos olhos de Julio Cortázar.
Ler Cortázar é uma experiência muito peculiar. Tenho ótimas lembranças de Rayuela, e ainda guardo Todos os fogos, o fogo para algum dia de inverno. Este livro que você comentou parece ser uma boa pedida também.
ResponderEliminarAbraços
Bom dia,
ResponderEliminarSim, tenho a certeza de que iria gostar muito de ler esta Volta ao dia :)