À partida, o nome Blake Nelson dificilmente lhe soará familiar, mas se lhe disser que é um escritor que conta já com dois romances adaptados ao cinema, talvez até, quem sabe, já ouviu falar dele. Girl e Paranoid Park foram levados até à sétima arte pelas mãos de Jonathan Kahn e Gus van Sannt, com distintos sucessos. O primeiro passou despercebido, ao passo que Paranoid Park atingiu o patamar de culto indie, premiado pela Independent Spirit Award, Boston Society of Film Critics e Festival de Cannes, entre outros.
Blake Nelson gosta de escrever sobre adolescentes e os seus problemas, muitas das vezes escreve para adolescentes, isto apesar de os seus romances serem lidos por adultos, não estando limitados por qualquer barreira menores de 18, ou vice-versa. Destroy All Cars é um manifesto anti-consumista, capitalista e americano que o jovem James Hoff, de 17 anos, anda a escrever. James é um típico adolescente revoltado contra o sistema e contra todos os clichés e kitschs dos outros miúdos da sua idade e os seus respectivos pais. Segundo James, todos os miúdos vivem num sonho, são mimados, idiotas e vivem de acordo com aquilo que as lojas impõem.
Ao contrário dos seus amigos, ele gosta de usar roupas velhas e desgastadas (chega a cortar os cotovelos das camisolas), não ostentando o visual Vans/Nike que o rodeia e tanto o enerva. Todos vamos morrer pelo que andamos a fazer ao meio ambiente e a vida não tem muito sentido. O que mais revolta a nossa personagem principal são, essencialmente, os carros que tanto combustível consomem em excesso, que emitem gases nocivos e, acima de tudo, porque são conduzidos por “AMERICANOS CONSUMISTAS” que precisam de SUVs para ir aos shoppings fazer compras de artigos que nunca vão usar. No lado oposto temos Sadie, a ex-namorada optimista e dedicada às causas da mãe natureza e dos mais desfavorecidos que tanto irrita o jovem Hoff.
Durante o livro, e intercalando com as observações críticas e jocosas, James vai fazendo trabalhos de casa para um professor sobre o que o apoquenta e que tanto niilismo lhe causa. É nestes ensaios e manifestos que o nosso jovem escreve de forma descuidada e tipicamente adolescente revoltado sobre factos que realmente dão que pensar que mais interesse despertou em mim. A forma como as ideias são expostas e a ausência de justificações para as mesmas, a juntar à relação com o professor, são talvez o ponto mais forte e divertido da obra.
Destroy All Cars ganha muito pela forma descontraída e humorística que Blake Nelson encontra para expor problemas que deviam preocupar não só aos adolescentes, todavia também aos adultos. A todos nós. A ironia e o sarcasmo presentes no romance são inteligentes e provocam boas gargalhadas e boa disposição, aquilo que muitas vezes falta a livros ditos “grandes” e “imperdíveis”.
Nota: esta crítica foi baseada na leitura da obra no seu idioma original, o inglês.
já está na lista.
ResponderEliminarTens que me mostrar como vai a tua lista :)
ResponderEliminaracabo de comprar a minha prenda danos :
ResponderEliminarTrilogia Suja de Havana - Pedro Juan Gutierrez
Assim Falava Zaratustra - nietzsche
Slow Man - J.M. Coetzee
Disgrace - J.M. Coetzee
Contortionist'S Handbook - Craig Clevenger
Gente de Dublim - Joyce
Pergunta ao Pó - fante
Destroy All cars - Blake Nelson
Ah! muito bem :) Coetzee, Clevenger e Nelson. Ah, boa sorte com o Zarathustra!
ResponderEliminarÉ muito complicado?
ResponderEliminarNão é complicado, mas é bem chatinho.
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