A espera pelo sucessor de Heresy, de 2003, foi longa, árdua e sempre envolta em vários rumores sobre a direcção musical que a banda iria tomar. Pete Sandoval, um dos mais talentosos bateristas da história do metal, passou os últimos anos em constante agonia devido a problemas nas costas, até que teve mesmo que ser submetido a cirurgia para poder regressar em força. Infelizmente para ele, não pôde gravar o álbum e neste momento as dores devem ter, certamente, aumentado de intensidade.
Durante várias semanas que antecederam o lançamento do disco, várias foram as especulações à volta das entrevistas que a banda vinha dando, onde dava ênfase a uma mudança na composição de várias faixas e à conjugação de vários elementos de música electrónica com o death metal extremo de Altars of Madness. No dia 16 de Maio o single Nevermore foi o mp3 com mais downloads efectuados na Amazon.com, levando a imprensa a tecer vários elogios àquilo que Illud Divinum Insanus seria, ainda que apreensiva em relação aos samples das restantes faixas que viriam a encorpar o nono registo de estúdio das lendas da Flórida.
Infelizmente para todos os fás da banda em particular e do death metal no geral, este álbum é uma desilusão enorme e um passo atrás maior que os do Bigfoot e poderá custar a Trey, David e Pete uma considerável animosidade entre os fiéis seguidores do trio. Quando se é visto como um dos pilares da música extrema e elevado quase sempre à qualidade de Deus, por vezes as emoções podem entrar em conflito e as divindades podem-se transformar em meros mortais. E é precisamente isso que está já a acontecer com a banda. Quando Ícaro quis com as suas asas voar muito alto, o seu pai, Dédalo, adverti-o para o perigo que o sol representava.
Finda a era Tucker, que partiu mas deixou uma pérola chamada Gateways to Annihilation e dois outros registos de bom nível, foi a vez de David Vincent regressar, recorrendo aos serviços de Tim Yeung (Council of the Fallen, Vital Remains, Divine Heresy, etc) e Thor Anders Myhren (Zyklon, Myrkskog). A priori, este quarteto apresentaria garantias de sucesso, devido às já muitas provas de talento que todos já apresentaram. Mas então o que falhou neste registo? Para começar, há uma notória falta de linha direcção, de arrumo de ideias e identidade; depois, o tecnicismo característico do grupo evaporou-se; em terceiro lugar, quando se mistura música industrial e de dança com heavy metal tem que se analisar primeiro essa viabilidade (francamente ausente) e o tipo de audiência que vai ouvir essa mistura (idem). Por último, a produção é demasiado fraca.
Em boa verdade, Illud Divinum Insanus é insano porque contém apenas três malhas típicas de death metal que seria de esperar da banda: a já citada Nevermore, Beauty Meets Beast e Existo Vulgoré. O resto do disco gira à volta de batidas e samples de EBM, electro e industrial que podemos encontrar na discografia de bandas como Rammstein, Static-X, Marilyn Manson ou Combichrist. Para piorar as coisas, a duração destas faixas está longe de ser curta: Too Extreme! (primeiro tema do registo, se excluirmos a intro Omni Potens) chega aos seis minutos, Destructos Vs. the Earth / Attack e Radikult ultrapassam os sete penosos minutos. The Berzerker e Fear Factory sabem mesclar a costela electrónica com o metal bem pesado porque, verdade seja dita, sabem o que querem e têm a tal linha de pensamento e orientação que faltou a Morbid Angel neste disco.
O resultado deste perigoso cocktail é demasiado desastroso para ser verdade e custa a acreditar que Myhren e Yeung tenham aceitado gravar isto e manchar as suas carreiras, um pouco à semelhança de Jason Newsted nos Metallica. Mas já assistimos a este filme recentemente com os Cryptopsy: banda com carreira mais que sólida que decide apostar numa direcção musicail demasiado infeliz. Illud Divinum Insanus não chega ao patamar de St. Anger do death metal porque este último é penoso de princípio ao fim, sem uma única faixa que o safe, ao passo que os Morbid Angel gravaram três aceitáveis.
3/10
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