Kiss Me, Judas, publicado em 1998, é o primeiro romance da saga de Phineas Poe, a personagem principal do mundo noir de Will Christipher Baer, um autor da nova geração de literatura transgressiva e modernista americana. Daqui destacam-se Chuck Palahniuk, Craig Clevenger, Douglas Coupland, Bret Easton Ellis, entre outros.
Na gelada cidade de Denver, Phineas Poe acorda numa banheira cheia de gelo, sem um rim e com um bilhete que diz o seguinte “se queres sobreviver, liga o 112”. Na noite anterior Poe tinha pago duzentos dólares a Jude para fazer sexo com ela e em vez disso, perdeu um dos seus órgãos e há a possibilidade de ter um saco de heroína no lugar da ferida. Poe, um ex-polícia que tinha recentemente perdido a sua mulher Lucy e sido expulso da Polícia, decide ir à procura de Jude, mulher perigosa por quem estranhamente se apaixona e em quem confia.
O rim de Poe foi escolhido a dedo para ser cirurgicamente removido e posteriormente ser entregue a uma pessoa que precisa urgentemente dele e que contratou Jude. Para além disto, temos uma personagem que precisa regularmente de injecções de morfina para aliviar as dores, acabando por sonhar e delirar sobre a morte da sua esposa ao longo de todo o livro: ter-se-á suicidado ou terá sido ele mesmo a matá-la, são estas as dúvidas de Poe.
A escrita de Baer é fluida e propositadamente incoerente em várias situações, de modo a confundir o leitor e criar suspense em torno das acções da nossa personagem principal e das que o rodeiam. Há uma cortina de nevoeiro que separa os intervenientes deste romance construída para criar um ambiente de cinema/literatura noir, fazendo com o que agora é verdade, daqui a um momento possa ser mentira. As alucinações e a escuridão que reveste o coração de Poe muito contribuem para a verosimilhança que cada cena, cada capítulo comporta.
No decurso da estória nota-se uma certa inspiração nos puzzles e no surrealismo psicológico, erótico e ambíguo do mundo de Bret Easton Ellis, J. G. Ballard, David Lynch e David Cronenberg. Will Christpher Baer é um autor que vale a pena explorar.
Nota: esta crítica foi baseada na leitura da obra no seu idioma original, o inglês.
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