sábado, 18 de junho de 2011

José Saramago «As Pequenas Memórias»


Faz hoje, dia 18 de Junho, um ano que um dos homens do povo e um dos que mais contribuiu para o reconhecimento da literatura portuguesa além fronteiras faleceu. Foi com imensa tristeza envolta em choque que recebi a notícia de que José de Sousa tinha falecido, vítima de leucemia crónica, na ilha de Lanzarote na nossa vizinha Espanha. Foi difícil aceitar a morte de um escritor e contador de estórias que tão bons momentos me proporcionou, um indivíduo cujas ideias políticas sempre geraram mais inimigos e ataques que propriamente consenso.

Neste manuscrito pequenino autobiográfico, José explica aspectos caricatos da sua vida, a começar pelo seu nascimento e nome. De facto, José de Sousa passou a chamar-se José de Sousa Saramago porque no Registo Civil decidiram acrescentar o nome pelo qual a família era conhecida, neste caso “Saramago”. Não foi, no entanto, apenas com o seu nome que Saramago teve peripécias: a sua data de nascimento também foi alterada. Oficialmente, referimo-nos a José Saramago como uma pessoa que nasceu no dia 18 de Junho de 1922, porém, nasceu mesmo dois dias antes, no dia 16 na pequena aldeia da Azinhaga, no Ribatejo; mas, e para evitar sofrer uma penalização pela não declaração do nascimento do bebé dentro do seu devido prazo, os pais José de Sousa Maria da Piedade recorreram à alteração da data.

Oriundo de uma família de camponeses pobres, Saramago cedo se mudou para Lisboa para estudar e trabalhar numa época difícil, marcada pelas grandes guerras. É precisamente a narração da infância, a forma como sentia enorme aproximação à Azinhaga e o muito carinho pelos seus avós e seus progenitores que marcam especialmente esta autobiografia. Como seria de esperar, o livro afasta-se totalmente da carga política e crítica social dos seus romances; as cento e quarenta e nove páginas d’As Pequenas Memórias são um documento para melhor conhecermos aquele que foi, até hoje, o único vencedor do Prémio Nobel da Literatura. O romancista que Sousa Lara impediu de concorrer ao Prémio Literário Europeu por não representar os valores morais e religiosos dos portugueses; aquele por quem hoje se come bolo-rei com fartura para os lados de Belém.

José Saramago deixou-nos e a vida segue, isso é certo. Não devemos ignorar a sua obra, o contributo para ao desenvolvimento cultural e literário português e a criação da Frente Nacional para a Defesa da Cultura. Obrigado, amigo José de Sousa “Saramago”.

2 comentários:

  1. Foi o primeiro livro que li dele. Simples, humilde e agradável de se ler.

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  2. Foi dos últimos que li dele e, por acaso, gostei muito. Tenho aqui ainda três para ler.

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