segunda-feira, 16 de abril de 2012

«A Pele Onde Eu Vivo»


O cinema espanhol é seguramente um dos que mais cresceu nas últimas duas décadas, tal é o número de prémios internacionais que recebe e a quantidade de actores também espanhóis que figuram já nas passerelles de Hollywood. Um dos grandes culpados deste fenómeno é o controverso realizador Pedro Almodóvar, responsável por nada mais, nada menos que Hable Con Ella, Volver e La Mala Educación.

A Pele Onde Eu Vivo estreou no ano passado e, consigo, mais uma vez se voltou a falar castelhano nos grandes festivais de cinema por todo o mundo. A estória, baseada na novela Mygale de Thierry Jonquet, passa-se em torno de Robert Ledgard (Antonio Banderas), um brilhante cirurgião que viu a sua esposa sobreviver a um acidente de viação que a deixou com horríveis queimaduras graves, mas que não conseguiu ultrapassar o desgosto causado pelas mesmas. A sua filha Norma (Blanca Suárez) é tudo o que lhe resta de bom na vida, até ao dia em que a jovem é violada numa festa por Vicente (Jan Cornet) e morre numa insituição psiquiátrica. Estes acontecimentos conduzem o médico a um louco plano da cirurgia moderna: a transformação de Vicente, entretanto raptado, numa bela rapariga para ocupar, ao mesmo tempo, o lugar de filha e esposa na casa do Dr. Robert Ledgard.

Elena Anaya dá vida a Vera, o primeiro ser humano a resistir a uma reconstrução facial, mudança de sexo e de pele, assim como uma lavagem cerebral. Com uns toques de Hitchcock e um ambiente obsessivo, Pedro Almodóvar recria um pouco os filmes de terror psicológico/drama da velha guarda, mas por vezes fica a sensação de que falta algo mais às personagens para tornar todo este ambiente num verdadeiro sufoco – se é que era essa a intenção de Almodóvar. Há ilações a retirar deste filme – como, aliás, sucede com todos os filmes deste realizador: será que, por mais moderna que seja a ciência, conseguiremos emular um ser humano que perdemos? Será a tecnologia capaz de recuperar e/ou criar uma pessoa que pense do zero, como uma máquina? A resposta é, obviamente, não. Elena Anaya, e o seu grande papel, demonstram que por mais moldáveis e evoluídos que possamos ser, no fundo uma cópia nunca substitui o original.

Denso e reflexivo, esta proposta de Pedro Almodóvar marca o regresso de Antonio Banderas à sétima arte pela porta grande e a confirmação da boa carreira de Elena Anaya.

Título original: La Piel Que Habito
Argumento: Pedro Almodóvar, Thierry Jonquet
Realização: Pedro Almodóvar

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