quinta-feira, 3 de março de 2011

«A Casa dos Mil Cadáveres»


Muitos defendem que os grandes filmes de terror pertenceram à década de 70. Costumam sistematicamente fazer alusão aos clássicos O Exorcista, Halloween, Tubarão e O Massacre no Texas, entre outros, e que se estenderam apenas até à década seguinte, década esta que nos ofereceu películas como Pesadelo em Elm Street, A Morte Chega de Madrugada, Sexta-Feira 13, Hellraiser, etc.

Muito honestamente, também partilho em grande parte da opinião de que a partir de 1990, tudo o que se viu nos cinemas em termos de terror se passou a denominar de “terrir”. A receita tem que ter os seguintes ingredientes: actriz desprovida de talento, mas com um corpo divinal, um título que faça alusão aos grandes filmes de terror do passado e a actriz tem que, pelo menos uma vez, tirar a camisola. Mas então por que é que estou a escrever sobre um filme de 2003? A razão é simples: A Casa dos Mil Cadáveres se tivesse sido lançado nas duas décadas douradas, teria sido um êxito de bilheteira.

Rob Zombie assinala aqui a sua estreia como realizador cinematográfico, depois de uma carreira musical de sucesso tanto a solo, como em White Zombie. Zombie faz aqui um excelente exercício sobre como fazer um grande filme de terror através de uma viagem de quatro jovens que se passeiam pelo Texas em busca de Dr. Satan, uma figura local mitológica. Deslocando-se numa daquelas carrinhas que víamos em Scooby Doo, os dois casais decidem fazer uma paragem no estabelecimento de Captain Spaulding (Sid Haig), que se mostra um aficionado por psicopatas e horror. O estabelecimento de Captain Spaulding comprime uma bomba de gasolina, uma casa de frango assado e nas traseiras há um museu de terror. É neste museu que os quatro jovens perguntam pelo Dr. Satan e o nosso Capitão lhes desenha um mapa do paradeiro do Diabo.

O rabisco de Spaulding leva-os até à acolhedora casa da família Firefly, onde “acidentalmente” um dos pneus viatura fura e os jovens são convidados para um grande jantar e espectáculo de “halloween”, na presença de Otis, a Sra. Firefly, Baby (Sheri Moon Zombie, esposa de Rob Zombie), Rufus, Tiny e o avô Firefly. Com um ambiente tipicamente anos 70 – o filme passa-se em 1977 – Rob Zombie consegue criar aqui uma tensão bastante peculiar e uma grande empatia entre as personagens (os vilões) e o espectador: esta família Firefly é composta por assassinos, violadores e necrófilos com bastante traquejo no que à arte de matar diz respeito. Soa doentio, mas não obstante o facto de ser um filme bastante explícito (refira-se que o filme foi adiado mais que uma vez por ser demasiado explícito e que muitas cenas foram censuradas devido a violência extrema), há aqui um monte de cenas hilariantes, uma banda sonora extremamente adequada ao filme (o punk rock dos The Ramones, o country de Buck Owens e a própria música de Rob Zombie) e um recuperar inteligente da casa de O Massacre no Texas. As cenas em câmara lenta de momentos trágicos (mortes, entenda-se) encaixam aqui que nem uma luva.

Já vi e revi mais que uma dezena de vezes este clássico de terror da década passada (premiado no Fantasporto na categoria de Melhores Efeitos Especiais) e não me farto de rever. Há, de facto, um grande revivalismo da década de 70 nesta obra; todavia, foi mesmo essa a ideia que Zombie pretendeu aqui implementar. O papel que Sid Haig desempenha na pele do palhaço Captain Spaulding é arrebatador, hilariante e carismático, e são personagens como esta - elas geram assimetrias "hilariante vs violento" - que fazem de A Casa dos Mil Cadáveres um filme de culto e bem diferente do “fast food” rotulado de “terror” que nos tentam impingir semanalmente e há muitos anos. 

Título original: House of 1000 Corpses.
Escrito e realizado por Rob Zombie. Produzido por Spectacle Entertainment Group e Universal Pictures.

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