Fustigada pelos ventos fortes do Mar do Japão, a costa noroeste do país do Sol nascente esconde a pequena cidade de Yuzawa. Conhecida pelas suas águas termais, esta região montanhosa alberga Invernos delicadamente frios, onde a neve chega a atingir os cinco metros de profundidade, isolando populações e pequenas vilas.
Terra de Neve é o romance de estreia de Yasunari Kawabata, o primeiro nipónico a receber o Prémio Nobel da Literatura em 1968. Numa escrita delicadamente poética, o autor narra a relação entre um homem abastado de Tóquio, Shimamura, e uma jovem gueixa, Komako. O diletante Shimamura visita, ano após ano, as águas termais de Yukawa em busca de alguma paz, até que conhece Komako, uma esbelta mulher que se dedica ao culto da arte milenar da música, da dança e do entretenimento (ao contrário do que vulgarmente se pensa, uma gueixa não é uma prostituta).
A linguagem empregue por Kawabata é de uma poesia extrema, delicada, calma, e ao mesmo tempo gelada como o frio desta terra de neve, condenando logo à partida ao fracasso a relação de ambos. Shimamoto visita Komako na Primavera, no Outono e no Inverno: o decorrer de cada estadia e de cada estação serve essencialmente para metaforizar o nascer, o viver e o morrer do amor de ambos. Esta passagem de estação para estação – e apesar de o livro ser muito curto – é lenta, dolorosa, solitária, taciturna, representando também um pouco da forma de estar que Kawabata adoptou em vida e enquanto escritor. Apologista de um Japão tradicional, Kawabata vê também em Komako a beleza e pureza da mulher tipicamente japonesa.
Terra de Neve apresenta-se como um dos mais importantes romances publicados no Japão, com potencial para agradar a um tipo de leitor que seja capaz de mergulhar na densidade da busca e perda do amor. Yasunari Kawabata criou páginas férteis em ambientes de elevada tensão e descrições de personagens e cenários que o obrigarão a parar para digerir a complexidade emocional da obra.
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