terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Pig Destroyer «Book Burner»


Não lançavam nada desde 2008, altura em que gravaram Natasha, um disco absolutamente impensável na discografia de uma banda de grindcore. Um dos nomes mais populares da língua russa personificou um álbum que se alimenta do drone e música ambiente, capaz de criar um ambiente relaxado. Ora, este adjectivo, relaxado, não pode entrar num disco puro de grindcore, pois claro.

O anterior disco Phantom Limb assinalou uma abordagem notoriamente mais death metal, ao mesmo tempo que desvirtuou um pouco a identidade e acentuou a falta de um baixo no grupo - grindcore sem baixista ainda se consegue ouvir, mas algo que roce o metal e sem baixo, já não é assim tão bonito de se ouvir. Book Burner marca também o primeiro disco com Adam Jarvis (Misery Index) na bateria, uma vez que Brian Harvey deixou a banda, e Blake Harrison é também considerado um membro oficial, embora este esteja encarregue dos samples e partes electrónicas, que não são assim tantos.

Book Burner é um disco razoável com momentos de pura fúria e descarga de riffs enérgicos, acompanhados por um blast beating que parece não conseguir acompanhar a guitarra. Adam Jarvis é um bom baterista de death metal, qualificado para tocar grindcore, não duvido, mas o disco apresenta uma óbvia falta de intensidade que Jarvis não consegue preencher – ou então a banda simplesmente optou por uma toada menos extrema. Outro grande defeito deste disco prende-se uma vez mais com a produção demasiado abafada e artificial do disco, lembrando as produções pobres dos discos que os Slayer gravaram nos últimos tempos. O instrumento mais afectado por este problema foi sem dúvida a guitarra de Scott Hull e todos os riffs secos que o mesmo debita, criando saudades daquela criatividade levada a cabo no seminal Terrifyer.

Em termos estruturais, Book Burner mistura o grindcore com o thrash/death metal e um pouco de hardcore punk, distribuídos por temas que vão 30 segundos aos 4 minutos de duração. Alguns dos temas são directos e respeitam as regras old school do grindcore, como é o caso de Eve ou All Seeing Eye, mas, por exemplo, Permanent Funeral ou The Diplomat não encaixam rigosamente nada num registo que tinha tudo para figurar nos melhores de 2012.

Book Burner é, como referido atrás, um disco razoável, no entanto os últimos trabalhos de Phobia e Rotten Sound constituem alternativas bem mais agradáveis e extremas.

6.5/10

sábado, 22 de dezembro de 2012

Gonçalo M. Tavares «O Bairro»



Tinha em alta consideração Gonçalo M. Tavares. Afinal de contas, tinha gostado muito da tetralogia O Reino e, bem, também o escritor foi um dos vencedores do Prémio José Saramago – aquele galardão que nunca foi atribuído pelo autor de A Jangada de Pedra.

Ora, num impulso consumista e aproveitando as promoções que o final de ano e Natal proporcionam, lá caí na asneira de comprar os packs de O Bairro I e II. Esta colecção de micro-contos e aventuras de várias personagens tiradas do mundo da Literatura, Cinema e Artes em geral é manifestamente um bocejo matinal prolongado até á noite. Gonçalo M. Tavares tentou ser filosófico e anedótico, ao mesmo tempo, mas de filosofia isto nada tem. E se estes livrinhos são para fazer rir, Fernando Rocha é um supra-sumo da comédia se comparado com Tavares. 

«Lemos este livro recordando Lewis Carroll e com a permanente impressão de estarmos a ser interpelados na nossa lógica de seres, por assim dizer, normais [...]», escreve o crítico literário José António Gomes sobre O Senhor Valéry (supõe-se que seja o poeta Paul Valéry): não, caro José António Gomes, o senhor Valéry não recorda rigorosamente nada Lewis Caroll. Mas José António Gomes vai mais longe. Caso contrário, vejamos o que diz sobre Gonçalo M. Tavares: [...] a obra de Gonçalo M. Tavares é um primoroso exercício de inteligência, de graça e de rigor de linguagem.». Mentira. Há apenas o rigor de criar historinhas aborrecidas e previsíveis. Ler O Bairro é como comer chocolate sem açúcar, praticar futebol com uma bola furada, comprar A Bola e esperar imparcialidade.

Uma colecção de pseudo-filosofia / comédia amadora a evitar a todo o custo.

domingo, 16 de dezembro de 2012

José Luís Peixoto «Dentro do Segredo»



Costuma-se dizer que o primeiro pensamento, o pensamento intuitivo, é sempre a melhor ideia, e diz-se igualmente que é preferível agir e agir mal, do que não agir. José Luís Peixoto, autor de Abraço, Livro e Cemitério de Pianos, entre outros, teve a ideia de escrever sobre uma viagem à Coreia do Norte quando se encontrava em Los Angeles, Estados Unidos, a conhecer a Koreatown dessa metrópole norte-americana. «E se eu fosse à Coreia do Norte e escrevesse mesmo um livro sobre essa aventura?», certamente que foi este o pensamento do escritor.

Em Abril de 2012, aquando das comemorações do centenário do nascimento de Kim Il-sung, em Pyongyang, Peixoto participou na viagem mais extensa e longa que o governo norte-coreano autorizou nos últimos anos, tendo passado por todos os pontos simbólicos do país e do regime, mas também por algumas cidades e lugares que não recebiam visitantes estrangeiros há mais de sessenta anos. O telemóvel ficou retido na alfândega, a câmara fotográfica seguiu viagem e fotografou aquilo que não deveria captar, Dom Quixote de la Mancha, que também deveria ter sido apreendido à chegada ao país, logrou ir escondido junto das roupas dentro da mala de viagem. Durante vários momentos da sua viagem ao país mais fechado do mundo, o autor refugiou-se em Sancho Pança para tentar esquecer a lavagem cerebral que os guias turísticos tentaram sucessivamente impingir ao grupo de turistas de onde o escritor fez parte. Numa ditadura que ultrapassa a miséria e falta de liberdade estalinista, José Luís Peixoto arriscou fotografar e registar com a caneta situações que lhe poderiam ter custado caro.

Para evitar más interpretações, o vencedor do Prémio Saramago 2001 frisa na obra que é «contra todos os regimes totalitários e ditaduras» e que sempre teve «curiosidade no sentido de tentar perceber o quotidiano de quem vive nessas sociedades». É importante explicar isto, obviamente, mas quem já conhece bem o escritor, conhece-lhe as raízes anarcho-punk e grindcore anti-sistema. Em traços largos, este livro regista os momentos marcantes de uma viagem a um mundo fechado do resto do planeta; um mundo onde não há liberdade de expressão, um país onde os ditadores têm poderes sobrenaturais, onde estes mesmos líderes nascem sob arco-íris duplos nos montes mais altos de uma nação que foi abandonada pela China e União Soviética. Certamente que estas características político-culturais são sobejamente conhecidas pelas pessoas, e não seria por aqui que residiria a vontade em comprar este livro. O que torna este livro atractivo é a forma como Peixoto escreve sobre realidades que parecem inverosímeis a nós, habitantes do mundo ocidental; a escrita poética, bem trabalhada, sarcástica, que o autor emprega. Está presente todo um grande sentimento de empatia e compaixão pelos habitantes que acreditam – melhor dizendo, que os fazem acreditar – viver no país perfeito, onde nada lhes falta, e uma enorme admiração pelas crianças. Sobre estas, é notória a tristeza do autor em relação à forma como o regime lhes rouba sonhos e direitos.

Há uma passagem na obra que define este segredo: «Os segredos estão dentro de nós. Como tudo o que sabemos, também os segredos nos constituem. Também os segredos são aquilo que somos. Quando os seguramos, quando somos mais fortes e os contemos, alastram-se em nós. Desde dentro, chegam à nossa pele. Depois, avançam até sermos capazes de os reconhecer. Então, nesse momento, já não são apenas os segredos que estão dentro de nós, somos também nós que estamos dentro dos segredos.»

Dentro do Segredo é recomendado sobretudo a quem já conhece a obra de José Luís Peixoto e quiser saber um pouco mais sobre a sua viagem à Coreia do Norte.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Rush no Rock and Roll Hall of Fame


Após muitos anos de rumores e muita insistência por parte dos fãs da banda, os Rush conquistaram finalmente o Rock and Roll Hall of Fame.

Para além da banda canadiana de rock progressivo, Public Enemy, Heart, Lou Adler, Quincy Jones, Albert King e Randy Newman farão também parte da distinção, numa cerimónia a decorrer em Abril de 2013, em Los Angeles.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

«Jeff, Who Lives at Home»



A vida poderá ser compreendida como uma projecção de realidades baseada na interpretação que o nosso cérebro faz através das imagens que recebe, criando mundos a todos os instantes. Há quem também refira que somos aquilo que atraímos: aquilo que pensamos torna-se realidade.

Jeff, um indivíduo de 30 anos que vive na cave da casa da sua mãe, está à procura de um significado para a sua vida. Jason Segel, famoso pela sua participação na série Foi Assim que Aconteceu (How I Met Your Mother), interpreta o papel deste jovem que anda à deriva na vida, escapando do tédio através do bong de erva que fuma compulsivamente. Inesperadamente, Jeff recebe uma chamada por engano a perguntar por Kevin e parte em busca de alguém com este nome. Ora, visto que Kevin é um nome muito popular na língua inglesa, Jeff terá praticamente que percorrer todo o país para encontrar o Kevin.

Paralelamente, o irmão mais velho de Jeff vive uma crise amorosa com a sua esposa. Pat (Ed Helms, A Ressaca) vive uma vida de incertezas provocada pela obrigatoriedade de comprar bens materiais para agradar a Linda (Judy Greer). Ou então, Pat acredita que conseguirá recuperar o amor da companheira através da compra de um Porsche, piorando ainda mais a situação. Linda não quer um automóvel que põe em risco a independência financeira do casal e decide sair com outro homem para enfurecer o marido.

Enquanto Jeff se deixa guiar pela subtileza dos sinais da vida, encontra Pat e ambos se ajudam mutuamente na procura da felicidade, isto apesar do cepticismo de Pat em relação à forma como o irmão mais novo encara a vida. Jeff, Who Lives at Home é cómico e profundo em vários aspectos, mas a narrativa é demasiado curta para o conceito de filme que a dupla de realizadores Jay e Mark Duplass (Cyrus) concebeu, creio eu. Esta obra precisava no mínimo de mais 30 minutos para que o final fizesse sentido, na medida em que a busca de Jeff e todos os sinais que este encontra no caminho acabam por ser insuficientes para dar um corpo sólido ao conceito: um final verdadeiramente feliz para Jeff; a prova de que as nossas acções estão interligadas com o universo.

A curta duração do filme torna-o uma experiência inacabada e isso é penoso para a boa premissa inicial.

Realização: Jay Duplass, Mark Duplass
Argumento: Jay Duplass, Mark Duplass

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Chuck Palahniuk «Choke»



Quer se queira, quer não, a obra mais bem conseguida de Chuck Palahniuk continua a ser Clube de Combate, um caótico e violento romance sobre a sociedade consumista norte-americana. O resto da obra deste escritor oscila entre o muito bom e o desapontante, uma espécie de yin-yang de um autor de culto com alguns romances adaptados ao cinema.

Choke já foi inclusive adaptado ao grande ecrã por Clark Gregg, em 2008, e creio que este foi um dos factores da minha desilusão em relação ao romance, pois vi o filme primeiro. Evito sempre ver primeiro os filmes porque sei que o livro é sempre melhor, ou quase sempre, pois claro; nesta situação, verifiquei o inverso. Clark Gregg deu um toque diferente às linhas de Palahniuk, conseguiu criar uma certa ligação entre os ataques fingidos de asfixia de Victor Mancini, a personagem principal, e o espectador. A experiência mais traumática que vivi relativamente a pior romance adaptado ao cinema foi sem dúvida alguma Ensaio Sobre a Cegueira, um filme mau demais para ser verdade, uma conversão directa do romance para o cinema. E é uma pena, porque um bom realizador teria tornado um dos romances mais marcantes de José Saramago numa experiência agradável, na pior das hipóteses.

Voltando a Choke, temos na obra a estória de Victor Mancini, um viciado em sexo sem compromisso que cresceu em lares adoptivos e que reencontra a verdadeira mãe quando esta está numa clínica às portas da morte. Victor teve uma infância triste marcada pela ausência da mãe, que passava a maior parte do tempo em instituições psiquiátricas e a fugir da autoridade, raptando-o várias vezes para fazê-lo sentir a vida no limite, sem regras, sem ordem. Uma vida onde o amor não existe e só a dor e a sobrevivência prevalecem. Ora… isto é tão típico em Palahniuk que já aborrece. É embaraçoso quando um autor que sabemos ser criador de estórias e personagens cativantes decide cozinhar sempre arroz. Todos nós gostamos de arroz, mas os legumes também nos são essenciais.

Devido à influência da mãe, Victor dedica-se a fingir ataques de asfixia em restaurantes para que alguém o vá salvar, para que a nossa personagem possa agradecer ao novo herói. Este é um dos mecanismos de defesa da solidão que Victor desenvolveu para sentir o calor humano – isto e o sexo desenfreado. Todos os dias, Victor recebe cartas e postais de dezenas de pessoas que o salvaram de uma morte dolorosa, a asfixia, dirigindo-lhe palavras de conforto e de agradecimento, pois Victor deu-lhes novo alento para continuarem a vida, acreditando que salvaram de verdade alguém – um exemplo de puro altruísmo ternurento palahniukiano. Por outro lado, e como já mencionado, Victor enfrenta problemas relacionados com o sexo compulsivo, maleita que o leva a frequentar um grupo de pessoas que, tal como ele, não têm controlo sobre si mesmas. Pessoas que fazem sexo em qualquer local imaginário, sem qualquer tipo de afectividade, sexo puro e duro. Nem neste grupo Victor encontra a paz, visto que acaba invariavelmente na casa de banho com as mulheres do grupo.

Choke (em português Choke – Asfixia, Casa das Letras) é um projecto sem grande chama, sobre um tema interessante e mal explorado. É tempo de Palahniuk se reinventar, porém, algo me diz que não será através da sequela de Damned.
  
Nota: esta crítica foi baseada na leitura da obra no seu idioma original, o inglês.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Novo tema de Cult of Luna


Os suecos Cult of Luna disponibilizaram em streaming I: The Weapon, novo tema do próximo disco Vertikal.

Vertikal será lançado na Europa no dia 25 de Janeiro, via Indie Recordings, e 29 de Janeiro em território americano, via Density Records. O conjunto experimentalista actuará nos dias 28 e 29 de Janeiro no Hard Club e Paradise Garage, respectivamente, com a presença dos portugueses Process of Guilt.